Sobre a cidade polonesa de Janiewiczach

Jo Pires-O’Brien

Uma leitora brasileira cujo sogro é um imigrante polonês natural de Janiewiczach, perguntou-me se eu sabia em que ano essa cidade havia sido ‘invadida’ pela Ucrânia. O texto abaixo é o resultado da pesquisa que fiz para responder tal pergunta.

As referências à cidade de Janiewiczach são bastante difícieis de se encontrar na internet. Uma biografia do pianista polonês Jan Kleczyński (1837-1895), obtida na internet, consta que o mesmo nasceu em Janiewiczach, na Volínea ou Lodomeria (inglês:Volhynia; Volyns’ka oblast – de Volodymyr-Volynski). Outras designações de Janiewiczach são Włodzimierz, Volodymyr. A localidade é considerada uma das mais antigas da Rutênia (atual Ucrânia) e foi fundada em terras que antes pertenciam à Polônia. No ano 988 a cidade virou a capital do principado de Volínea ou Lodomeria (Volodymyr).

A Volínea (Volhynia), ou Lodomeria, também já compôs o ducado ou principado de Galícia-Volínea (Halych-Volhynia), também na Rutênia, que posteriormente foi incorporado à Polônia. Galícia (Halych) era também o nome da principal cidade e capital, mas em 1256 o rei Daniel mudou a capital para Leópolis (L’viv) em homenagem ao seu filho Leo (Lev).

Após a primeira partição da Polônia em 1772, os nomes ‘Halych’ e ‘Volhynia’ foram latinizados para Regnum Galiciae et Lodomeriae, ou Galícia e Lodomeria. A Galícia passou para a Áustria e a Lodomeria para a Rússia.

A geografia da Galícia-Volínea consiste de uma área a oeste, situada entre os rios San e Wieprz, e uma área leste de brejos chamada Pripet. Ambas já haviam pertencido à Polônia, mas quando da reconstrução desta pelo Tratado de Versalhes, em 1918, apenas a Galícia (Halych) voltou a fazer parte do território polonês. A Lodomeria (Volhynia) foi alocada à Ucrânia, outro Estado criado pelo Tratado de Versalhes. A linha de partição cortou a Lodomeria (Volhynia) em duas, com a parte oeste na cidade de Lutsk (Luck). Entretanto, a alocação da Galícia e da Lodomeria à Polônia e Ucrânia não refleriu a realidade da condição social das duas regiões, cuja população maior consistia de poloneses.

A Revolução Bolchevique russa de 1917 criou o monstro da União Soviética, à qual a Ucrânia e diversas outras nações foram incorporadas. A Polônia resistiu à tentativa de incorporação pela União Soviètica, mas passou a sofrer constantes pressões sobre as suas fronteiras. Em 23 de agosto de 1939 a Alemanha e a União Soviética assinaram o Pacto Ribbentrop-Molotov de não agressão, então secreto. Segundo esse pacto, as tropas alemãs invadiriam a Polônia a oeste e a União Soviética faria o mesmo a leste. A invasão da Polônia pela Alemanha desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o Pacto Ribbentrop-Molotov foi desfeito quando a União Soviética sentiu-se ameaçada pela Alemanha. Apesar dos soviéticos terem se juntado aos aliados, o exército vermelho continuou a invadir a Polônia pela sua fronteira leste, aproveitando o fato de que quase toda a defesa da Polônia ficava na parte oeste. A Polônia fez uma corajosa tentativa de deter os soviéticos, mas sem sucesso. A invasão da soviética levou à chamada ‘quarta partição’ da Polônia, quando no fim de setembro de 1939, a União Soviética declarou que a Polônia não mais existia. Com o objetivo de fazer uma limpeza étnica na região, os soviéticos organizaram quatro ondas de deportações de poloneses. Apenas na segunda, cerca de 330 mil poloneses foram deportados para o Kazaquistão.

A situação da Polônia permaneceu desesperadora durante toda a Segunda Guerra, pois os poloneses tinham que combater não apenas a invasão nazista mas também os soviéticos e as milícias ucranianas que agiam em conluio com os invasores nazistas. O ataque maior ocorreu em 1941, quando a região da Galícia e Lodomeria (Halych-Volhynia), uma das mais populosas da Polônia, foi dizimada. No seu livro Danubia: A Personal History of Hapsburg Europe (2013) (leia a resenha em PortVitoria), Winder reconhece os motivos da exterminação da população dessa região, afirmando que um indivíduo podia ser morto ou expulso pelos mais diversos motivos, ‘por ser judeu, por ser polonês, por ser alemão, por ser rico, por ser pro-nazista ou pro-comunista’.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, os aliados cederam à pressão da União Soviética e passaram para a Ucrânia uma gigantesca área do leste da Polônia. Tal área incluiu a maior parte da Galícia (Halych) e a porção da Lodomeria (Volínea; Volhynia) que a Polônia ainda possuía, incluindo as cidades de Leópolis (L’viv ou Lwow), Grodno (Hrodna), Lutsk (Luck) e Stanislaw (Stanislawow). A cidade de Wílnius (Wilno) Vilno, passou para a Lituânia.

 


Jo (Joaquina) Pires-O’Brien é uma brasileira de Vitória residente na Inglaterra, de onde edita a revista eletrônica PortVitoriade atualidades, cultura e política, e, centrada na cultura ibérica e sua diáspora no mundo. PortVitoria é estruturada em inglês mas os seus artigos e saem em inglês, português e/ou espanhol. Em 2016 ela publicou um livro de ensaios em e-book, intitulado O homem razoável, à venda no portal www.amazon.com.br (R$24). A versão em espanhol, El hombre razonable y otros ensayos, também está à venda nos portais da Amazon.

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