A histografia da Assíria-Babilônia e a dos israelitas

Duas historiografias da antiguidade que são interessantes pelas suas interconexões são a da Assíria-Babilônia e a dos israelitas da Judeia.

A principal historiografia sobre a Babilônia e a Assíria disponível ao mundo grego é a obra de Beroso (Berosus), um padre caldeu do templo de Bel (Baal), que deixou a Babilônia logo depois da conquista por Alexandre o Grande, sendo datada em torno de 240 a.C. Depois de sair da Babilônia, Beroso foi morar na ilha de Cos, na Ásia Menor, onde montou um observatório e uma escola de astronomia. Beroso também passou um período em Atenas, onde era altamente estimado, ao ponto de uma estátua de cobre ter sido feita em sua homenagem. Beroso dedicou os seus três livros sobre a cultura da Babilônia, escritos em name the Jews have for the Biblegrego, a Antióquio I (c. 324–261 a.C.), monarca Síria selêucida, que reinou entre 292 e 281 a.C., no leste, e de 281 a 261 em todo o país.

Quando Beroso completou os seus três livros sobre a Babilônia e a Assíria, as escrituras em hebraico que eventualmente foram reunidas para formar os 24 livros do Tanakh (a bíblia hebraica) já deviam estar completas. O cruzamento das informações fornecida por Beroso com aquelas que contam da bíblia hebraica apontou impossíveis coincidências de narrativas, as quais provam que a historiografia dos israelitas copiou e adaptou muitas narrativas dos povos da Assíria-Babilônia. Apenas fragmentos dos livros de Beroso sobreviveram, e um possível motivo disso é terem sido queimados nas fogueiras de livros promovidas pelos bispos da cristandade, que pregavam a origem divina da Bíblia.

Sabemos da existência dos livros de Beroso através das citações de Eusébio de Cesária e de Josephus. No seu primeiro livro, Beroso descreveu a terra da Babilônia, cuja civilização foi levada para lpa pela divindade Oannes, que era metade homem e metade peixe, bem como por outras divindades, incluindo ainda a lenda da criação e a sua versão da astrologia caldeia. Nesse livro, Beroso afirma que Oannes é considerado o autor da ‘cosmogonia’ babilônica, o livro que descreve a criação do mundo, e cita diversos trechos do mesmo. O segundo e o terceiro livros fornecem uma cronologia da história da Babilônia e da sucedânea Assíria, que começa com ‘os dez reis anteriores ao dilúvio’, passando à narrativa do dilúvio e a restauração da monarquia, com uma longa série de monarcas que reinaram ‘depois do dilúvio’,  as ‘cinco dinastias’, finalmente a história mais recente dos assírios, o último reino da Babilônia, a invasão persa e a conquista de Alexandre da Macedônia.

Sobre a historiografia dos israelitas, esta é a mesma que os povos cristãos designaram como ‘Bíblia’. Antes de prosseguir, é mister relembrar que o nome ‘Bíblia’ só passou a ser usado para designar os livros sagrados dos israelitas, depois que estes foram traduzidos para o grego e consolidados na versão designada como ‘Septuaginta’, cuja compleição é estimada em cerca de dois séculos após a compleição da obra em hebraico.

Segundo a informação arqueológica existente – a arqueologia bíblica – , a bíblia só começou a ser escrita no segundo século a.C., ou seja, cerca de 400 anos depois do exílio dos israelitas na corte de Nabucodonosor II da Babilônia. Os textos bíblicos foram escritos em hebraico, e, por diversos autores. O Pentateuco, que se refere aos primeiros cinco livros da bíblia, têm quatro fontes assim designadas: J (Javé), E (Elói), D (Deuteronômio) e P (Padres). O primeiro livro, Gênese ou Bereshit em hebraico , narra as bem conhecidas histórias da Criação, do Jardim do Éden, de Caim e Abel, Noá e o Dilúvio, a Torre de Babel, e como os israelitas foram para o Egito. O segundo  livro, Êxodus, narra como os israelitas conseguiram sair do Egito onde eram escravos, incluindo a história de Moisés. Todas essas histórias possuem correspondentes bem mais antigos na historiografia da Babilônia e da Assíria, conforme Beroso gravou em sua obra. A decifração da escrita cuneiforme em meados do século XIX  trouxe à tona as mesmas histórias gravadas em tabletes de barro. Isso é um exemplo clássico do cruzamento de fontes de informação a fim de enriquecer a História.

Post Script.

Tal é a correspondência entre as histórias da bíblia e a historiografia da Assíria-Babilônia que essas não podem ser consideradas coincidências aleatórias. Os eruditos cristãos possivelmente já sabem disso e já entendem a Bíblia como uma espécie de destilado da sabedoria humana. Entretanto, tais fatos são desconhecidos pela maioria das pessoas, e uma parcela significativa da população não consegue viver sem religião e suas narrativas fabulosas. A pergunta que muitos eruditos cristãos certamente já fazem é sobre o que fazer com as estruturas religiosas já montadas. Uma alternativa que os clérigos têm é promover o humanismo em suas congregações, deixando de lado as cobranças acerca de crenças. Eventualmente as igrejas existentes ganharão novas finalidades, transformando-se em escolas ou centros comunitários.

História, pré-história e historiografia

A história como uma narrativa elaborada dos eventos públicos baseada em pesquisa, surgiu na Grécia mais ou menos entre 450 e 430 a.C., a partir de Heródoto de Alicarnasso, considerado o pai da história. Heródoto deixou as primeiras crônicas sobre o Egito – a primeira civilização a deixar registros escritos –, bem como sobre a Babilônia, a Assíria e a Pérsia. Heródoto escreveu o livro Historias,  pelo qual foi reconhecido como o pai da história. Entretanto, a definição de história que prevaleceu é aquela baseada em sistemas de evidências intercruzadas, envolvendo testemunhos escritos e artefatos arqueológicos. Outros historiadores que vieram depois de Heródoto reconheceram  que muitas das narrativas no livro Historias eram ficcionais. Os eruditos modernos sugerem que a tradução mais correta do título do livro de Heródoto seria ‘Inquirições’.

A pré-historia é outro termo cuja definição evoluiu ao longo do tempo. Heródoto entendia que apenas as obras escritas serviam como registro da história, e assim sendo, o termo pré-história era entendido como o período que antecedeu o surgimento da escrita. Entretanto, o mero fato de colocar uma narrativa no papel não significa que tal narrativa seja verdade. Uma das maneiras que os historiadores encontraram de assegurar a verdade é através do intercruzamento de informações. A grande consequência disso é que o limite entre a história e a pré-história desapareceu. As historiografias, ou relatos históricos, só fazem parte da história quando apoiadas em evidências intercruzadas.

Os Avanços da Assiriologia

A Assiriologia refere-se ao estudo sistemático da língua literatura e história da Babilônia e da Assíria, os dois últimos impérios da Mesopotâmia antiga, considerada o berço da civilização Ocidental. Graças aos avanços da assiriologia, sabemos que os babilônios e os assírios viviam e compartilhavam de uma mesma língua e uma mesma escrita de caracteres cuneiformes. E graças à decifração da escrita cuneiforme em 1851, todo o registro cuneiforme historicamente relevante já foi traduzido, esclarecendo os períodos históricos  relevantes bem como muitas outras coisas sobre a vida dos babilônios e assírios como, por exemplo, o fato de que os babilônios davam uma enorme importância à religião enquanto que os assírios valorizavam mais a história. A cronologia abaixo visa ajudar a entender a geopolítica da Mesopotâmia antiga.

Avanços Recentes da Assiriologia

O vale compreendido entre o rios Tigre e Eufrates, que os antigos chamavam de Mesopotâmia e onde hoje em dia situa-se o Iraque, é considerado como sendo o local onde surgiu a civilização Ocidental. Os seus dois últimos impérios da antiguidade foram a Babilônia e a Assíria, cujas capitais eram Babilônia e Assur. O estudo sistemático da língua literatura e história da Babilônia e da Assíria é objeto da Assiriologia, um complexo de disciplinas que inclui a arqueologia, a filologia, a geologia e a história.

Graças aos avanços da assiriologia, sabemos que os babilônios e os assírios viviam e compartilhavam de uma mesma língua e uma mesma escrita de caracteres cuneiformes. E graças à decifração da escrita cuneiforme em 1851, todo o registro cuneiforme historicamente relevante já foi traduzido, esclarecendo os períodos históricos  relevantes bem como muitas outras coisas sobre a vida dos babilônios e assírios como o fato de que os babilônios davam uma enorme importância à religião enquanto que os assírios valorizavam mais a história.

Leia também a postagem Cronologia da Babilônia e Assíria

Cronologia da Babilônia e Assíria

Final do 3º Milênio a.C.

            A Babilônia surge como cidade.

Shamshi-Adad I (1813 – 1781 a.C.), um Amorita, ganha o poder no norte da Mesopotâmia, do rio Eufrates até as montanhas Zagros;

1ª metade do século 18 a.C.

1792-1750 a.C.

Colapso do reino de Shamshi-Adad após a morte deste. Hamurabi incorpora todo o sul da Mesopotâmia ao reino da Babilônia.

            1749 – 1712 a.C.

O filho de Hamurabi, Samsuiluna reina. O curso do rio Eufrates muda por razões não conhecidas no presente.

            1595

O rei hitita Mursilis I saqueia a Babilônia. A dinastia Sealand parece ter reinado na Babilônia após o assalto hitita. Quase nada é sabido da Babilônia nos 150 anos após tal assalto.

Período Cassita

Meados do Século 15 a.C.

Os povos Cassitas, que não eram da Mesopotâmia tomam o poder na Babilônia e restauram a Babilônia como o poder no sul do Mesopotâmia. A Babilônia sob dominação Cassita durou (tirando com um curto intervalo) 3 séculos. Foi uma época de literatura e de construção de canais. A cidade de Nipur foi reconstruída.

Início do Século 14 a.C.

Kurigalzu constroi Dur-Kurigalzu (Aqar Quf), perto da moderna Bagdad, provavelmente para defender a Babilonia dos invasores vindos do norte. Há 4 grandes poderes mundiais, o Egito, Mitanni, o império Hitite, e a BabilOnia. O babilônio é a língua da diplomacia internacional.

Meados do Século 14 a.C.

A Assíria emerge como um poder sob Ashur-uballit I (1363 – 1328 a.C.).

1220s

O rei assírio Tukulti-Ninurta I (1243 – 1207 a.C.) ataca a Babilônia e toma o trono em 1224. Os Cassitas eventualmente o depõe, mas danos foram feitos ao sistema de irrigação.

Meados do Século 12 a.C.

Os elamitas e os assírios atacam a Babilônia. Um elamita, Kutir-Nahhunte, captura o último rei Cassita, Enlil-nadin-ahi (1157 – 1155 a.C.).

1125 – 1104 a.C.

Nabucodonosor I reina na Babilônia e retoma dos elamitas a estátua de Marduk que os elamitas tinham levado para Susa.

1114 -1076 a.C.

Os assírios sob Tiglathpileser saqueiam a Babilônia.

Séculos 11 – 9 a.C.

Tribos de arameanos e caldeus migram e se assentam na Babilônia.

Meados do Século 9 a.C. ao fim do Século 7 a.C.

A Assíria aumenta o seu domínio sobre a Babilônia.

O rei assírio Sennacherib (704 – 681 a.C.) destrói a Babilônia. O filho de Sennacherib, Esarhaddon (680 – 669 a.C.) reconstrói a Babilônia. O filho deste, Shamash-shuma-ukin (667 – 648 a.C.), assume o trono da Babilônia.

Nabopolassar (625 – 605 a.C.) se livra dos assírios e em seguida de investe contra eles numa coalizão com Medes, em campanhas que vão de  615 – 609 a.C..

O Império Neo-Babilônio

Nabopolassar e seu filho Nabucodonosor  II (604 – 562 a.C.) reinam na parte oeste do Império Assírio. Nabucodonosor II conquista Jerusalém em 597 a.C. e a destrói em 586 a.C. .

Os babilônicos renovam a Babilônia para adequá-la a ser a capital do império, incluindo 3 milhas quadradas dentro das muralhas da cidade. Quando Nabucodonosor morre, o seu filho, o seu genro, e o seu neto assumem o trono numa rápida sucessão. Em seguida, assassinos entregam o trono a Nabonidus (555 – 539 a.C.).

Ciro II (559 – 530) da Pérsia toma a Babilônia. A Babilônia deixa de ser independente.

Nota Final. Em 334 a.C., aos vinte anos de idade, Alexandre da Macedônia invade a Pérsia e a incorpora ao seu império, ganhando junto a Babilônia e a Assíria. Após a sua morte, em 323 a.C., o seu império foi dividido entre os seus generais. Um deles, Seleuco, tornou-se o rei das províncias leste do império alexandrino, mais a Síria e a Mesopotâmia. Seleuco incorporou tudo na nova Síria Selêucida. O reino de Seleuco era tão vasto que necessitou ter duas capitais, ambas fundadas em torno do ano 300 a.C.: Antióquia, na Síria, e Selêucida, na Mesopotâmia.

Fonte: a presente cronologia foi tirada do portal: http://ancienthistory.about.com/od/babyloniatimelines/a/babyloniatime.htmç. Segundo esta fonte, a principal referência empregada para a confecção da presente cronologia foi: James A. Armstrong Mesopotâmia The Oxford Companion to Archaeology . Brian M. Fagan, ed., Oxford University Press 1996. Oxford University Press.

Barão de Mauá (1813-1889). Brazil’s first self-made man

Joaquina Pires-O`Brien

The many new industrialist of the Gilded Age in America gave rise to the narrative that anyone can obtain financial success if they work hard enough. Although the idea of the self-made man is normally associated to the United States, Brazil had its own self-made man: Barão de Mauá, whose name at birth was Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889).  He received the title of baron for building Brazil’s first railroad, a stretch of 14.5 Km (later stretched to 15.6 Km) connecting the center of Rio de Janeiro to Fragoso, on the hillside of Serra da Estrela, Petrópolis, where was the Summer house of the Emperor. He continued to be known as Barão de Mauá even after being made a viscount at a later time.

Just as the early industrial entrepreneurs in the United States were envied by the old upper-class,  Mauá too became the object of much envy, and was seen by old money as an arriviste or nouveau riche, and in addition to that, he was an abolitionist. It took nearly a century for Mauá to be recognised in Brazil as a brilliant entrepreneur and a self-made man. In the United States the era of rapid economic growth from the 1870s to about 1900 became known as the Guilded Age. The same era in Brazil is known as the Age of Mauá.

Mauá could have accomplished much more for himself and for Brazil. However, he was a stranger in the nest. Mauá’s idea that money was a fair reward for hard work and enterprise was anathema to Brazil’s landed gentry. Brazil was an agricultural economy relied on slave labour, and Mauá was an abolitionist.  There was a lot of court intrigue against him, not just by the old money but also by the politicians who had the Emperor’s ear. The latter could have given Mauá the support he deserved but chose to do nothing. In spite of being spurned by Brazilian society, Mauá was a respected name among the British bankers. Mauá was a giant among minions. His tremendous potential was unfulfilled, and the greatest loser was Brazilian society.

Chronology of Barão de Mauá

1813 (28 December): Irineu Evangelista de Sousa is born, in the village of Arroio Grande, Jaguarão, Rio Grande do Sul, near the border with Uruguay.

1819: His father, João Evangelista de Ávila e Sousa, a rancher, is killed by cattle thieves.

1820: Irineu learns to read and write, taught by his mother, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, from whom he receives his first lessons in arithmetic.

1821: His widowed mother, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, remarries, to João Jesus e Silva, who does not wish to maintain a relationship with the children from her previous marriage, and Irineu is placed with his uncle Manoel José de Carvalho.

1822: After his mother`s marriage, Irineu, then aged 9, goes on a trip to Rio de Janeiro with another uncle, José Batista de Carvalho, a ship’s capitain.

1824: He works as a salesman in a haberdashary owned by a Portuguese man called Antônio Pereira de Almeida.

1828: At age 15, he stars to work book-keeper for the same shop.

1829: Due to the bankruptcy of Antônio Pereira de Almeida and the closing of the haberdashery,  Irineu goes to work at Carruthers & Cia, an importer company owned by a Richard Carruthers, a Scot.

1836: He becomes the manager of Carruthers & Cia.

1837: He becomes a partner of Carruthers & Cia after Richard Carruthers returns to England.

1839: Irineu’s sister, Guilhermina, who lived in Rio Grande do Sul, comes to Rio to live with him,  brining her daughter Maria Joaquina de Sousa, known as ‘May’.

1840: Irineu travels to England for the first time, on business, and there he becames acquainted with the new inventions of the Industrial Revolution and with the capitalist system.

1841: Irineu marries his niece `May`, and the couple has eleven children (who survived birth).

1844: Carruthers & Cia faces financial difficulties due to an increase in the importation duty imposed by a piece of legislation called `Lei Alves Branco’.

1845: Irineu liquidates the company Carruthers & Cia.

1846: He starts the Ponta da Areia Foundry and Shipyards company, to manufacture boilers and ships, considered to be Brazil`s most important industry.

1849–1850: With ships built at Ponta da Areia, he started the tag boat company called `Companhia de Rebocadores Barra do Rio Grande`.

1850: He provided the pipes for the waterworks of Rio de Janeiro, which used the water from the  Maracanã river.

1851: He founded the Gas Lighting Company of Rio de Janeiro, whose control he maintained until 1855. He founded Brazil’s second bank.

1852: He founded the following companies: Amazonas Steam Navigation (based on a 30 year exploration contract), the Fluminense Transport Company and the Petrópolis Railway Company (Brazil`s first railway, from Porto Estrela, in Guia de Pacobaíba, Magé, until Petrópolis).

1853: Becomes one of the major investors of the Recife & São Francisco Railway Co. and the Bahia & São Francisco Railway Co.

1854 (25 March): The first gas lamps are lit in Rio de Janeiro.

1854 (30 Abril): In the presence of Dom Pedro II, Brazil`s emperror, and various authorities,  he inaugurated the first part of the Petrópolis Railway, a stretch of 14.5 km between the Port of Mauá, on the bay of Guanabara, and the Fragoso station, at the foot of Serra da Estrela (Petrópolis), in the Province of  Rio de Janeiro. Dom Pedro II gives him the title of Barão de Mauá.

1855–1856: He enters politics and becomes a supply ‘Deputado’ (Representative). He established a worker’s  agriculture colony (commune) on the Province of Amazonas, and started negotiations with investors to build a railway from Santos to Jundiaí, in the Province of São Paulo.

1855: (30 April) Together with 182 investors he created the a Mauá, MacGregor & Cia, a finance institution, which had representations in several Brazilian capital cities, as well as in London, Paris, New York, Buenos Aires and Montevideo.

1856: He invested in the Tijuca railway, which went bankrupt in 1868.

1857: He was elected ‘deputado’ (Representative). The industrial plant at Ponta da Areia sis destroyed by arson.

1858: He inaugurated the Dom Pedro II Railway (later renamed ‘Central do Brasil`).

1860 (3 December): He introduced a legislation (Tarifa Silva Ferraz) that reduced the importation duty  on machinery, tools and ironworks.

1861 (6 May): He purchased two ranches (Caguassu and Capuava) from Capitain João José Barbosa Ortiz and his sisters Escolástica Joaquina e Catharina Maria, for 22,500 contos de réis. The properties, in Pilar, in the pParish of São Bernardo, externded from Santo André until Rio Grande da Serra. The properties main house was demolished in 1974, for the building of a viaduct on the road between Petrópolis and Rio de Janeiro.

1862: He obtained a concession to exploit the transport by trams in Rio de Janeiro. The rights of this company were transferred to the American company Botanical Garden’s Railroad (1866), which inaugurated the first line,  between Jardim Botânico and Botafogo (1868).

1863: He sold his shares in the São Paulo Railway (later called Santos-Jundiaí Railway).

1867 (1 January): He founded the Bank Mauá & Cia., that succeeded the finance company Mauá, MacGregor & Cia.

1867 (4 de abril): He inaugurated the Santos-Jundiaí Railway. This also marks the beginning of the downfall of Mauá’s enterprises.

1871: He invested in the Paraná Railway.

1872: He initiated two agricultural colonies on the Provincia of Rio de Janeiro. He inaugurated the  arrival of the transatlantic cable in Brazil.

1874: He organized the Rio de Janeiro Watter Supply Company, which operated until 1877.

1874 (26 de June): He was awarded the title of Viscount by Brazil`s Emperor Dom Pedro II.

1875: He applied to the Commerce Tribunal for a three year moratorium on his debts.

1877: He closed down the Ponta da Areia Welding and Shipyard company.

1878: He published the article `O meio circulante do Brasil`(Brazil’s circulating environment). He closed down the Mauá Bank.

1879: He wrote and published the book `Exposição aos credores e ao público’ (An explanation to creditors and the public), explaing the reasons of his moratorium and the financial difficulties that brought down his major enterprises. This included a brief autobiography.

1882: The Petrópolis Railway inaugurated its new extension to the city of Petrópolis.

1883: He travelled to London in na attempt to find a solution to his financial problems.

1884 (26 November): At age 70, after having payed his his ceditors, he received his letter of rehabilitation as a businessman, and starts to work as a commodities broker, especially coffee. He moved from Rioi to Petrópolis.

1889 (21 October): He died in Petrópolis, in the Province of Rio de Janeiro, a few days before the Proclamation of the Republic.

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A noção de excelência na História

Joaquina Pires-O’Brien

A história do Ocidente mostra que a noção de excelência já existia nas antigas sociedades gregas e romanas, sendo representada pela palavra grega areté (ἀρετή) e pela palavra latina excelentia. Tanto os sábios gregos quanto os sábios latinos aprenderam a distinguir entre a verdadeira excelência e a glória. Na antiguidade grega clássica, a palavra  ‘kratos’, que significa ‘governo’ foi juntada à palavra  areté  para formar o termo ‘aristocracia’, que descrevia o  ‘governo dos excelentes’. Quando Sócrates mostrou que a excelência não era necessariamente atrelada à fama, isso irritou bastante o ‘hoi polloi’, inclusive os 500 membros do júri que o condenou à morte.

No mundo contemporâneo há uma presunção de que os cidadãos eleitos para cargos governamentais são os mais valorosos da sociedade, razão pela qual são tratados de ‘excelência’.  Atualmente, ninguém em sã consciência imagina a democracia como sendo o governo dos menos capazes. Entretanto, uma parcela significativa do eleitorado é tão ignorante que ignora até a própria ignorância. O despreparo desses eleitores faz com que somente consigam imaginar o valor quando este é acompanhado da fama.

Os sábios da antiguidade clássica não apenas aprenderam a separar a excelência da fama mas também a apreciar a relação direta que existe entre a excelência a meritocracia. Já a sociedade contemporânea, esta despreza a meritocracia pois não consegue distinguir entre o verdadeiro e o falso mérito. Este curto ensaio procura mostrar que a sociedade contemporânea perdeu a capacidade de distinguir entre a excelência e a glória, esta última representada pela fama e pelo sucesso nas redes sociais.

A tradição grega

A tradição grega acerca da excelência está contida nas obras de Homero, que conta a história de indivíduos cujas realizações são veneradas na poesia. Na Ilíada, Aquiles é descrito como o melhor guerreiro que já existiu, sendo ainda dotado de grande inteligência para imaginar estratagemas eficazes. Aquiles é tudo isso porque possui ‘areté’, isto é a excelência. Aquiles conta como a sua mãe lhe havia assegurado que a sua fama seria eterna, pois ele ganharia um ‘kleos’ imperecível. Aqui, a palavra ‘kleos’ significa reconhecimento, fama ou glória. A fama eterna de Aquiles não é sem razão, como mostra a narrativa homérica.

Na tradição grega a excelência é acompanhada da fama. Em Atenas, o tipo de excelência mais reconhecido era a do esporte, seguida do teatro, enquanto que em Esparta era a militar.

Sócrates (c. 470 – 399 AEC) e Platão (427 – 347 AEC) deram uma nova interpretação à palavra ‘areté’. Tanto como registrador do pensamento de Sócrates quanto como pensador por si próprio, Platão afirmou que a filosofia serve de guia para a vida que vale a pena, e ao ensinar a vida que vale a pena, ele apontou a importância de cada qual buscar o melhor de si próprio mesmo sem haver uma possibilidade de ser recompensado por isso. O areté passa a ser o valor de cada pessoa, o qual existe em medidas diversas, independentemente de ser socialmente reconhecido ou não. Ou seja, o areté – excelência –, não é mais ligado ao kleos – fama ou glória–, sendo simplesmente o caráter do indivíduo.

Sócrates afirmou que o caráter de cada pessoa é um projeto de vida que só termina com a morte. O indivíduo que possui o hábito de refletir não apenas sabe distinguir o certo do errado mas também conhece a si próprio; portanto, sabe que o seu próprio caráter é diminuído ao fazer algo que não deve, mesmo que ninguém tenha percebido o mal que fez. Reconhecendo que o cometimento de um ato diminuiria o seu próprio caráter, Sócrates recusou a ajuda para fugir de Atenas antes de sua execução, e no seu julgamento, afirmou preferir ser injustiçado do que cometer uma injustiça.

A tradição romana

A tradição romana acerca da excelência é parecida com a tradição grega, pois mistura as ideias de excelentia – excelência – e de glória. Marcus Túlio Cícero fez a mesma coisa que Platão e Sócrates, e separou a excelência da glória, quando reconheceu que embora fazer parte do senado romano era uma coisa gloriosa, essa glória nem sempre vinha acompanhada da excelência. Pensando nisso, Cícero separou os senadores romanos em duas categorias, os bons e os populistas, que ele chamou de optimates e populares. Os optimates eram em geral conservadores, que desejavam preservar as tradições da república como o status quo, os direitos de propriedade e o prestígio do senado. Os populares não tinham uma política fixa pois as suas ações eram planejadas para agradar às massas e ganhar o seu suporte a fim de aumentar suas chances de permanecer no poder.

A primeira visa parece que os optimates são os melhores em tudo e os populares os piores, mas é provável que ambos grupos tinham suas faltas. A maior falta dos optimates foi ter tramado e levado a cabo o assassinato de Júlio César, julgando que faziam isso para salvar a república. Como a popularidade de Júlio César era bastante grande, o povo demandou a apuração de culpados, iniciando a crise que pôs fim à república e implantou o império.

A excelência na sociedade contemporânea

O reconhecimento das pessoas excelentes é uma condição necessária para o bom andamento da sociedade, e, cada sociedade tem seus benchmarks de excelência, bem como diferentes regras ou interpretações daquilo que tem mérito, e que, por ter mérito, merece recompensa. A Idade Digital e as redes sociais que a caracteriza tem reforçado a noção errônea da igualdade das pessoas e não o reconhecimento das pessoas excelentes.  A consequência disso é o  considerável rebaixamento dos benchmarks tradicionais, sendo que uma boa parte da população perdeu a capacidade de distinguir entre a verdadeira autoridade, aquela que é necessária e desejável para o bem-estar da sociedade e para a proliferação do conhecimento, e, a falsa autoridade dos indivíduos que se inflaram através da sedução das massas nas redes sociais. Isso possivelmente explica o desprezo da sociedade contemporânea pela meritocracia, ao contrário do que os sábios do mundo clássico pregavam.

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Breve história do ensino e das universidades

Breve história do ensino e das universidades

Joaquina Pires-O’Brien

O ensino formal do Ocidente tem suas raízes na ‘paideia’ (tradução literal: ‘educação da criança’), o sistema de educação e formação ética que surgiu na antiguidade clássica da Grécia, e que se espalhou para o mundo helênico[i], e deste, para o mundo romano. O objetivo da paideia era formar um cidadão[ii] perfeito e completo, capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na sociedade. As meninas gregas eram excluídas da paideia, pois, embora também fossem consideradas cidadãs, a sua cidadania era incompleta, visto que não tinham o direito de votar, e consequentemente, participar diretamente na polis. Os professores, chamados ‘paidagōgos’, ensinavam a leitura e a escrita, atletismo, música, e boas maneiras.

Em Roma, a educação era feita através do ensino em casa por tutores contratados, o que era comum nas famílias mais abastadas, assim como através de escolas básicas, as Ludi (de ludus literarius), para meninos de 7 a 14 anos de idade. Os Ludi eram bastante simples, e, no geral, consistiam em salas de aula improvisadas atrás de lojas, comumente separadas por uma simples cortina. O período de estudo era de um dia inteiro, com uma pausa para o almoço. As crianças trabalhavam no ábaco para aprender matemática básica, e aprendiam o latim através de ditados. Os alunos escreviam em tábulas de madeiras revestidas de cera. Estiletes com uma extremidade afiada e outra arredondada eram usados para escrever e apagar. Havia aulas todos os dias exceto nos dias de mercado e nos feriados religiosos, que eram muitos. Os alunos não precisavam saber por que algo estava certo, mas apenas que estava certo. O professor, conhecido como litterator, ensinava aos alunos o que era considerado certo mas não necessariamente o porquê das coisas. Tinha o direito de aplicar correção física nos alunos pelas mínimas ofensas, batendo neles com uma vara ou com um chicote. Os romanos das classes mais abastadas, e que tinham o costume de contratar tutores para os seus filhos,  também se preocupavam com a educação de suas filhas, conforme evidenciado pelas cartas enviadas por mulheres romanas a seus maridos que serviam nas diversas províncias.

Os romanos também reconheciam a importância de uma educação mais avançada para preparar os jovens que aspiravam entrar na política. Eles tomaram emprestado a organização disciplinar da Academia de Platão, em Atenas, introduzindo um sistema educacional baseado nas sete artes liberais. A gramática, a lógica e a retórica formavam o curriculum do trivium, enquanto que a aritmética, a geometria, a música, e a astronomia formavam o curriculum do quadrivium. Entretanto, o ensino do trivium e do quadrivium era particular, e os professores eram tutores contratados.

A educação pública envolvendo o ensino do trivium e do quadrivium é um dos legados de Carlos Magno (742-814 EC), o rei dos francos que em 800 foi coroado ‘Sacro Imperador do Oeste’ (i.e., do Império Romano do Ocidente), pelo Papa Leão III. A estreita relação entre Carlos Magno e a Igreja Católica Romana explica o seu interesse pela educação pública. Primeiro, Carlos Magno criou seminários voltados a formar clérigos bem preparados e dotados de um elevado padrão moral, e, em seguida, criou escolas paroquiais, onde os clérigos atuavam como professores. A chamada ‘renascença carolíngia’ tem a ver com os esforços de resgatar a educação do mundo clássico. A renascença própria, definida pela busca e valorização da arte clássica, incluindo a literatura e a filosofia, somente teve início a partir do século XIV.

 A academia de Platão

Em 387 AEC Platão retornou a Atenas após um exílio autoimposto em decorrente da morte de Sócrates (c. 469-399 AEC) e logo começou a trabalhar na construção de uma escola de preparação de jovens promissores para o exercício de cargos públicos. O local da escola era em um sítio chamado Akádemeia (Academia), que significa, ‘bosque de Akademos’, herói mítico de Ática, o país do qual Atenas era a capital, localizado fora dos muros da cidade. O nome Akádemeia, por fim,  passou a ser o nome da escola de Platão.

Há poucas referências documentais acerca da escola de Platão, cujo objetivo era permitir que os alunos, os quais eram selecionados pela aptidão, apreendessem a realidade e os seus aspectos mais relevantes ao bem, à justiça e à sabedoria.  A aptidão requerida para a admissão à escola de Platão incluía a veneração às musas da literatura, da ciência e das artes da mitologia grega[iii], indicativa do desejo de aprender, bem como conhecimentos de geometria. Sobre as disciplinas ensinadas, a academia oferecia matemática, dialética, música, ciências naturais e esportes. Sobre o modelo de administração da escola de Platão, há uma referência de que esta era uma entidade corporativa com um diretor vitalício, eleito pela maioria dos seus membros. A partir dos próprios textos platônicos, os eruditos fizeram algumas inferências sobre como a escola de Platão funcionava.

A leitura mais comum dos textos de Platão é de que o filósofo favorecia a aristocracia à democracia, sendo que a aristocracia de Platão referia-se ao governo do rei filósofo, isto é, de ‘guardiães’ especiais, tanto por serem as pessoas mais capazes quanto por serem livres das tentações da riqueza – eles eram proibidos de acumular propriedade. Entretanto, há uma leitura alternativa dos textos de Platão a qual afirma que a apologia de Platão à aristocracia – o governo do rei filósofo, tem mais a ver com o regime da sua academia, na qual os alunos  eram obrigados a deixar suas famílias para viver no espaço da escola, junto com os seus colegas e professores. Exatamente como ocorre nas universidades mais tradicionais do Ocidente.

Depois da morte de Platão em 348 AEC, o seu sobrinho Espeusipo (?- c. 338) foi eleito para sucedê-lo. É razoável presumir que a Academia de Platão tenha sido fechada e reaberta diversas vezes. Não obstante, os historiadores reconhecem três fases, uma mais antiga, uma média e outra mais nova. A fase mais antiga vai de Platão aos seus sucessores conservadores como Espeusipo, Xenócrates, Polemon e Crates, indo até o ano 265 AEC. A fase média inclui diversas academias que apareceram e fecharam, como a quarta academia fundada por Fílon de Larissa, na Tessália, que terminou com a morte deste em 83 EC. Três anos depois, em 86 EC, os romanos, sob o comando do general Sulla, saquearam Atenas e destruíram a academia e a sua biblioteca. A fase mais nova descreve o período, já na Idade Média, quando surgiu uma escola neoplatônica que funcionou de 410 EC a 529 EC, quando o imperador bizantino Justiniano I, motivado pelo desejo de criar uma ortodoxia católica, mandou fechá-la.


[i] O termo ‘mundo helênico’ refere-se à cultura grega do mundo mediterrâneo durante os três séculos após Alexandre, o Grande, que morreu em 323 EC.

[ii] A cidadania grega era entendida como a afiliação formal à polis, que dava direitos como votar em questões do governo, ser votado para cargos no governo, e, possuir terras. Devido a esse objetivo, é mister entender o sistema grego de cidadania. Havia uma regra de que apenas aqueles residentes livres e que podiam rastrear sua ascendência a um famoso pioneiro da cidade eram considerados cidadãos. Essa regra abria exceções para a pessoas de fora dotadas de grande riqueza ou de habilidades valiosas. A noção de cidadania da Roma antiga era parecida com a dos gregos em termos de responsabilidades e privilégios, Embora os romanos fossem bem mais abertos do que os gregos na concessão da cidadania, Roma instituiu duas categorias de cidadania, com e sem o direito ao voto.

[iii] Na mitologia grega, musas inspiradoras da literatura, da ciência e das artes eram as nove filhas de Zeus e Mnemósine (a personificação da memória). São elas: Calíope (da poesia épica), Clio (da história), Érato (da poesia de amor), Euterpe (da poesia lírica), Melpômene (da tragédia), Polihimnia (da poesia sagrada e da eloquência), Terpsícore (da dança), Tália (da comédia) e Urânia (da astronomia). Dentre as diversas narrativas acerca das musas destaca-se o poema ‘Erga kaí Hemérai’ (lat.: ‘Opera et Dies’; ing.: Works and Days’), de Hesíodo, escrito em torno de 700 AEC.

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Joaquina Pires-O’Brien é brasileira e reside na Inglaterra.

O Marquês de Pombal

Joaquina Pires-O’Brien

O Marquês de Pombal era um personagem proscrito na história que aprendi no curso médio no Brasil. Eu atribuo isso à inclinação política de esquerda que predominava na época; tal inclinação era um ponto cego que impedia uma visão completa do personagem, com seus vícios e virtudes. Os professores de história argumentam que o ‘iluminismo’[1] de Pombal, apesar de seu longo alcance, foi primariamente um mecanismo para aumentar a autocracia às custas da liberdade individual e, especialmente, uma aparelhagem para esmagar a oposição, suprimir críticas, e ampliar a explotação econômica colonial, bem como intensificar a censura da imprensa e  consolidar controle e ganhos pessoais. Apenas em 1995 o público interessado teve acesso a uma visão bem mais abrangente do marquês, através do livro de Kenneth Maxwell, Pombal: Paradoxo do Iluminismo.

Uma importante característica de Portugal do século XVIII era a sua rígida estrutura de classes sociais. E conforme escreveu Manuel Fernando Vizela Marques Cardoso, “A ordem social, mantida por costumes antigos, estava claramente definida e quase ninguém punha em causa este sistema que a própria religião e o ensino toleravam.” Assim, não é difícil entender que Pombal incomodou muita gente ao romper com essa tradição. A nobreza de Portugal o menosprezava pelo fato dele não pertencer à mesma. E as pessoas ordinárias se referiam a ele como ‘estrangeirado`, devido às suas ideias avançadas aprendidas durante suas residências em Londres e em Viena. Foi um golpe de sorte para Portugal ter um monarca capaz de reconhecer a competência de Pombal, e um golpe de sorte duplo para o próprio Pombal,  ter sobrevivido e ter tido a oportunidade de demonstrar seu valor. Para uma época definida pelas governanças absolutistas isso não é a coisa de se jogar fora, principalmente se levarmos em conta a quantidade de mentes brilhantes que são desprezadas pelas viciadas máquinas governamentais dos países democráticos de hoje em dia. 

Em 1o de novembro de 1755, quando Lisboa foi atingida por um violento terremoto com magnitude estimada de 9 na escala Richter, tendo sido sentido até em Hamburgo e nas ilhas dos Açores. O terremoto foi seguido de um tsunami que também destruiu os portos do golfo de Cádiz, na Espanha, com ondas de 5 a 15 metros de altura. O abalo sísmico e o tsunami foram seguidos por diversos incêndios, resultando na destruição da maior parte da cidade de Lisboa.

Na época em que Lisboa foi acometida pelo terremoto, a população de Portugal era ignorante acerca das leis físicas acerca da gravidade e do movimento dos corpos celestes, e o seu entendimento acerca do universo era entrelaçado às crenças na revelação divina bem como a especulações sem fundamento. Entretanto, na França, Inglaterra, e Alemanha, onde as ideias do Iluminismo já estavam espalhadas na população leiga, esta tinha ao menos uma ideia vaga de que o terremoto de Lisboa tinha sido um fenômeno normal da natureza. Foi a primeira vez na história da Europa em que um cataclismo de grande porte foi assim entendido. Quão diferente foi, por exemplo, do incêndio de Londres de 1625 e da Grande Peste de 1665 a 1666, ambos caracterizados por buscas irracionais de causas e responsáveis.

Logo após o terremoto de Lisboa, o filósofo francês Voltaire (François-Marie Arouet; 1694 – 1778), se concentrou em explicar as suas causas naturais e dissipar a teodiceia reinante de que havia sido uma punição de Deus. Por tudo isso, o terremoto de Lisboa de 1755 tornou-se o marco do limite inicial do Iluminismo, apesar de que este ainda não havia chegado a Portugal. Ali predominava a teodiceia. Em meio às centenas de corpos e aos escombros da cidade, os padres chamavam a população para rezar e pregavam que o terremoto havia sido um castigo divino. Pombal foi o quem trouxe a luz à população paralisada de medo logo após o terremoto de 1755, com sua atitude resoluta e sua competente liderança.  Uma frase dele que se tornou famosa é: “O que fazer agora? Enterramos os mortos e curamos os vivos!”.O presente ensaio visa mostrar que o personagem histórico Pombal tem outros ângulos além do de déspota esclarecido. E, é bom lembrar que poderia ter sido muito pior, se ao invés de esclarecido ele fosse estúpido e inculto.

Súmula biográfica

D. Sebastião José de Carvalho e Melo, 1o Marquês de Pombal, 1o  Conde de Oeiras (13 maio de 1699 – 8 Maio de 1782) foi um diplomata e estadista português. Durante o reinado de Dom José I de Portugal, de 1750 a 1777, ele ocupou o posto de Secretário de Estado do Reino de Portugal e do Algarve, cargo equivalente a um Primeiro Ministro contemporâneo, quando foi o chefe do governo português de fato. Melo recebeu seu primeiro título de nobreza aos 60 anos de idade, quando, em 1759, D. José I nomeou-o Conde de Oeiras. O rei lhe concedeu o título de Marquês de Pombal onze anos depois, em 1770, quando tinha 71 anos de idade.

Pombal já tinha 78 anos de idade quando deixou o cargo de Secretário de Estado, após o falecimento do rei D. José I, uma idade avançada até para os padrões contemporâneos. Em circunstâncias normais, um servidor público comum já teria se aposentado há pelo menos duas décadas. Mas Pombal era um homem de elevada diligência, o que sugere que teria optado por continuar contribuindo para a reconstrução de Lisboa e a modernização de Portugal. Não foi por acaso que surgiu o termo ‘pombalino’ para descrever o estilo de arquitetura que marcou a Lisboa de após o grande terremoto, bem como a gestão de Pombal. E o que aconteceu a Pombal depois da morte de  D. José I?

Por ter perseguido os jesuítas, Pombal tornou-se um desafeto D. Maria I[2], um católica devota e sob o domínio dos primeiros. Diz-se que até mesmo a menção do nome de Pombal induzia ataques de raiva na rainha. Não contente em retirar todos os cargos de Pombal, ela também o acusou de corrupção, e num julgamento fantoche, sem o devido direito de defesa,  Pombal foi condenado. Em seguida, a rainha também emitiu uma das primeiras ordens de restrição da história, ordenando que o marquês não estivesse a menos de 32 quilômetros de sua presença. O cumprimento do decreto real exigia que Pombal se retirasse de sua morada, na eventualidade da rainha ter que viajar para alguma localidade próxima. Finalmente, e seguindo a cartilha de Maquiavel, a rainha buscou dar mostra de sua magnanimidade, publicando um edito dizendo que perdoava ao marquês pelos seus crimes e, como ele era senil e doente, não se exigiria que ele saísse do país.  É claro que essa concessão da rainha não serviu de conforto Pombal, cujo anseio maior era limpar o seu nome. Como o belo palácio que Pombal havia construído em Oeiras ficava a menos de 32 quilômetros de Lisboa, ele não pode permanecer lá depois de ter se retirado da corte. Pombal foi morar na vila de Pombal, em Leiria, numa casa de campo de propriedade de seu tio-avô, onde morreu placidamente em 1782, aos 82 anos.

Apesar de Pombal ter sido descartado pela rainha, os seus feitos passados selaram a sua reputação. Depois que os estudiosos de outros países reconheceram o valor de Pombal no avanço da secularização, colocando-o no centro do Iluminismo europeu. Aos poucos, a contribuição de Pombal voltou a ser reconhecida em Portugal. Em 1934 Pombal foi homenageado com com uma estátua em bronze dele ao lado de um leão, em cima de um pedestal de pedra trabalhada de cerca de 40 metros de altura, numa importante praça de Lisboa que também leva o seu nome.

Os primeiros anos

Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu Casconho, próximo a Soure, na região de Coimbra, na primavera de 1699. Era filho de  Manuel de Carvalho e Ataíde, um proprietário de terras na região de Leiria, e de Teresa Luísa de Mendonça e Melo. Quando jovem ele estudou na Universidade de Coimbra e serviu ao exército por um curto período de tempo. Em seguida, ele se mudou para Lisboa e evadiu-se com Teresa de Mendonça e Almada (1689–1737), viúva sem filhos de seu primo António de Mendonça Furtado, falecido em 1718, a qual era onze anos mais velha do que ele. Apesar da família da noiva ter organizado o casamento do jovem casal, eles optaram por ir morar numa propriedade dos Melo, próxima de Pombal. O casal não teve filhos e Teresa faleceu em Lisboa, em 6 de fevereiro, aos 51 anos.

Em 1733 Pombal foi nomeado sócio da Academia Real de História Portuguesa, fundada em 1720 por D. João V, o Magnífico, e cuja moto era Restituet Omnia, que significa ‘restaurar todas as coisas’. Em 1740, um ano depois de ter ido para Londres como embaixador, ele foi eleito membro da Royal Society,[3] onde possivelmente teve oportunidades de ouvir os iluminados época, inclusive o francês Voltaire, eleito membro em 1741.

Carreira política

Sebastião José de Carvalho e Melo ainda não tinha nenhum título de nobreza quando, em 1938,  aos  39 anos de idade, recebeu o seu primeiro cargo público importante, durante o reinado de D. João V. Isso ocorreu quando o então primeiro ministro (secretário de Estado), o cardeal D. João da Mota, nomeou-o embaixador (plenipotenciário da corte) junto à corte da Grã Bretanha. Em 1745, Melo serviu também como embaixador de Portugal na Áustria[4].

A participação de Melo na corte de Lisboa lhe deu a oportunidade de conhecer a culta e poliglota rainha consorte, a arquiduquesa Maria Anne Josepha, da Áustria (1683–1754)[5], a  qual simpatizou de imediato com Melo. Quando este ficou viúvo de Teresa, sua primeira esposa, a rainha arranjou o casamento dele com Eleonora Ernestina von Daun, filha do Marechal de campo austríaco Leopold Josef, conde von Daun. Entretanto, o rei D. João V, não aprovou o casamento, e o chamou de volta em 1749. O casal teve sete filhos, sendo que o segundo, D. Henrique José Maria Adão Crisóstomo de Carvalho e Melo (1748-1812), passou a ser o 2º Marquês de Pombal, eventualmente imigrou para o Brasil. Com a morte deste, sem ter deixado descendentes legítimos, o título passou ao seu irmão D. José Francisco de Carvalho Melo e Daun.

A carreira pública de Melo é restaurada em 1950, quando D. João V morre e é sucedido pelo seu filho D. José, que era afeiçoado a ele. Melo passa a trabalhar diretamente com D. José I, e logo passa a ser o braço  direito do monarca. A experiência pregressa de Melo em Londres e em Viena foi crucial para o seu novo cargo de Secretário de Estado de Negócios Interiores, cargo equivalente a primeiro ministro. Melo era um anglófilo que procurou entender as causas do sucesso econômico inglês, e  buscou implementar políticas econômicas semelhantes em Portugal. Pombal aboliu o exército e a marinha, aboliu os Auto de fé e os estatutos civis de ‘Limpeza de Sangue’ e suas discriminações contra os novos cristãos (judeus que haviam se convertido ao cristianismo a fim de escapar da Inquisição portuguesa, e seus descendentes).

As reformas pombalinas

As reformas pombalinas consistiram de uma serie de reformas voltadas a fazer com que Portugal se tornasse uma nação autossuficiente e economicamente robusta, através da expansão do território brasileiro, do enxugamento da administração do Brasil colonial, e reformas fiscais e econômicas tanto em Portugal quanto nas colônias.

Durante a Idade do Iluminismo Portugal era considerado um país pequeno e atrasado. Em 1750 a população de Portugal era de três milhões de habitantes; cerca de 200 mil pessoas viviam nos 538 mosteiros do país. Embora a economia de Portugal antes das reformas fosse relativamente estável, esta dependia do Brasil para suporte econômico, e da Inglaterra para suporte na manufatura, através do Tratado de Mutuem de 1703. Até mesmo os produtos portugueses exportados eram intermediados por mercadores expatriados, como os exportadores ingleses de vinho do Porto e os negociantes franceses como Jácome Ratton, cujas crônicas são altamente críticas à eficácia de suas contrapartidas portuguesas.

A necessidade de expandir o setor manufatureiro em Portugal tornou-se ainda mais imperativo devido aos gastos excessivos da coroa portuguesa, o terremoto de Lisboa de 1755, as despesas com as guerras com a Espanha por territórios da América do Sul, e a exaustão das minas de outo e diamantes no Brasil.

Suas maiores reformas foram, no entanto, econômicas e financeiras, com a criação de várias empresas e ‘guildas’ para regular todas as atividades comerciais. Ele criou a empresa ‘Douro Wine’, que demarcou a região vinícola do Douro, para garantir a qualidade do vinho do Porto; essa foi a primeira tentativa na Europa de controlar a qualidade e a produção de vinho. Diz-se que Melo governou com mão pesada, impondo leis estritas a todas as classes da sociedade portuguesa, da alta nobreza à classe trabalhadora mais pobre, e através de sua ampla revisão do sistema tributário do país. Essas reformas lhe renderam inimigos nas classes altas, especialmente entre a alta nobreza, que o desprezava como um iniciante social.

Outras reformas importantes realizadas por Melo foram na educação. Em 1759 ele criou a base para escolas primárias e secundárias públicas seculares, introduziu treinamento profissional, criou centenas de novos postos de ensino, adicionou departamentos de matemática e ciências naturais à Universidade de Coimbra e introduziu novos impostos para custear por essas reformas.

O terremoto de Lisboa

Um desastre caiu sobre Portugal na manhã de 1º de novembro de 1755, quando Lisboa foi atingida por um violento terremoto com magnitude estimada de 9 na escala Richter. A cidade foi arrasada não apenas pelo terremoto mas também pelo tsunami e incêndios que se seguiram. Melo sobreviveu por um golpe de sorte e imediatamente embarcou na reconstrução da cidade, com sua famosa citação: “O que fazer agora? Enterramos os mortos e curamos os vivos!”.

Apesar da calamidade, Lisboa não sofreu epidemias e, em menos de um ano, já estava sendo reconstruída. A nova área central de Lisboa foi projetada para resistir a terremotos subsequentes. Modelos arquitetônicos foram construídos para testes, e os efeitos de um terremoto foram simulados por marchas de tropas ao redor dos modelos. Os edifícios e as principais praças do centro pombalino de Lisboa são uma das principais atrações turísticas de Lisboa: são os primeiros edifícios à prova de terremotos do mundo. Melo também deu uma contribuição importante ao estudo da sismologia, projetando um questionário que foi enviado a todas as paróquias do país.

O questionário perguntou se cães ou outros animais se comportavam estranhamente antes do terremoto, se havia uma diferença notável na elevação ou queda do nível da água nos poços e quantos edifícios haviam sido destruídos e que tipo de destruição ocorreu. As respostas recebidas permitiram aos cientistas portugueses modernos reconstruir o evento com precisão.

Campanha contra e os autos da fé e contra os jesuítas

Melo fez uma forte campanha para por fim aos autos de fé, aquelas cerimônias públicas organizadas pelo Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como Inquisição, e que incluía uma procissão que terminava numa estrutura em cadafalso, em cima do qual os réus eram apresentados ao público. Melo sabia que não podia exterminar a Inquisição, e assim, ele se limitou a tentar influencia-la. Para tal, ele nomeou seu irmão, D. Paulo Antônio de Carvalho e Mendonça, inquisidor-mor. Ele também usou a inquisição para combater a ordem dos jesuítas, isto é, dos padres católicos pertencentes à Sociedade de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola em 1540, em Paris.

Inicialmente o ingresso na Sociedade de Jesus requeria um elevado padrão educacional de seus aspirantes. Os jesuítas eram mandados para as colônias europeias na América, Ásia e África, com a missão de converter os nativos e trazê-los ao seio da cristandade. Lá eles compilaram dicionários, e ensinaram música e teatro, além de outras coisas, como fizeram o Padre Manoel da Nóbrega e o Padre José de Anchieta no Brasil. Entretanto, passados quase dois séculos, a Sociedade de Jesus entrou em decadência. Muitos padres jesuítas eram incultos e ignorantes, como aqueles que pregavam que o terremoto de Lisboa havia sido um castigo divino.

Tendo morado em Viena e Londres, esta última sendo importante centro do Iluminismo, Melo acreditava cada vez mais que a Sociedade de Jesus, cujos membros são conhecidos como ‘jesuítas’, com seu domínio da ciência e da educação, era um resistência inerente a um iluminismo independente em estilo português.

Melo conhecia bem a tradição anti-jesuita do Reino Unido, e, em Viena, fez amizade com Gerhard van Swieten, confidente da imperatriz Maria Teresa e forte adversário da influência dos jesuítas austríacos. Melo empregou a sua autoridade e seus relacionamentos para expulsar os jesuítas de Portugal, engajando-se numa campanha pública a contra os jesuítas, que foi observada de perto pelo resto da Europa. Durante o caso Távora, quando um membro dessa família tentou assassinar o rei D. José I, ele acusou a Companhia de Jesus de envolvimento. Os jesuítas foram expulsos de Portugal e seus bens confiscados pela coroa. E em 1773 os jesuítas foram expulsos de toda a Europa e suas colônias, quando os reis absolutistas europeus forçaram o Papa Clemente XIV a emitir uma bula papal  que os autorizava a suprimir a ordem em seus domínios.

 O affair Távora

A diligência de Melo logo em seguida ao terremoto de 1º de novembro de 1755 fez com que D. José I lhe atribuísse ainda mais autoridade. Segundo consta, foi aí que e Melo tornou-se numa espécie de ditador. À medida que seu poder cresceu, os seus inimigos aumentaram em número, e disputas amargas com a alta nobreza se tornaram frequentes. A maior dessas disputas amargas foi o affair Távora, iniciado em 1758, quando D. José I foi gravemente ferido em uma tentativa de assassinato, ao retornar de uma visita à sua amante, a jovem marquesa de Távora.

Melo jogou todo o seu poder contra a família Távora e também contra o duque de Aveiro, que estavam envolvidos. Melo não mostrou piedade, processando todas as pessoas envolvidas, até mulheres e crianças. Foi uma grande vitória do primeiro-ministro contra os seus inimigos da aristocracia. Após o caso Távora, o novo conde de Oeiras não conheceu oposição. Como recompensa por sua rápida determinação, D. José I tornou o seu leal ministro conde de Oeiras em 1759. Mais tarde, em 1770 foi nomeado Marquês de Pombal.

O affair Távora ainda não é um capítulo encerrado da história. Há uma tese de que os mandantes do crime não foram os Távora mas sim a rainha, D. Mariana Vitória, e que o verdadeiro alvo seria a marquesa, a amante de D. João V, que o acompanhava.

A invasão da Espanha

Em 1761, a Espanha concluiu uma aliança com a França, pela qual a Espanha entraria na Guerra dos Sete Anos, em um esforço para impedir a hegemonia britânica. Os dois países viam Portugal como o aliado mais próximo do Grã-Bretanha, devido ao Tratado de Windsor. Como parte de um plano mais amplo para isolar e derrotar a Grã-Bretanha, enviados espanhóis e franceses foram mandados a Lisboa para exigir que o rei e Pombal concordassem em cessar todo o comércio ou cooperação com a Grã-Bretanha ou enfrentar uma guerra. Embora Pombal desejasse tornar Portugal menos dependente da Grã-Bretanha, esse era um objetivo a longo prazo, e ele e o rei rejeitaram o ultimato de Bourbon.

Em 1762, a Espanha declarou guerra a Portugal e enviou tropas através da fronteira. Apesar de terem conseguido capturar Almeida, eles logo pararam. Pombal havia enviado mensagens urgentes a Londres solicitando assistência militar, mas nenhuma tropa britânica foi enviada. Em vez disso, a Grã-Bretanha enviou William, o conde de Schaumburg-Lippe e alguns de seus militares para organizar o exército português.

Após a Batalha de Valência de Alcântara, os espanhóis foram empurrados de volta à fronteira. O Tratado de Paris pedia a restauração de todo o território português em troca dos britânicos devolverem Cuba, e Almeida foi evacuado.

Nos anos após a invasão, e apesar da crucial assistência britânica, Pombal começou a se preocupar cada vez mais com o aumento do poder britânico. Apesar de ser um anglófilo, ele suspeitava que os britânicos cobiçavam o Brasil e ficou alarmado com a aparente facilidade com que haviam tirado Havana e Manila da Espanha em 1762.

Relações com o Brasil

Pombal deu atenção ao Brasil, assim como às demais colônias portuguesas.

Em 1751, criou o Tribunal de Relações do Rio de Janeiro. Juntas de justiça foram instituídas nas capitanias.

Em 1763, mudou a capital do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro.

Organizou a fundação de numerosas comarcas e vilas foram fundadas. A capitania de Mato Grosso, criada por D. João V, só então foi instalada. Criou a capitania do Piauí, e resolveu a questão entre as fronteiras das capitanias de São José do Rio Grande e de Rio Grande de São Pedro.

Renomeou o Estado do Maranhão, criado em 13 de junho de 1621, como Estado do Grão-Pará  e Maranhão, que permanece como uma colônia autônoma portuguesa até 1823.

Incentivou a diversificação da agricultura, fazendo com que o Brasil passasse a plantar mais arroz, tabaco, algodão e cacau.

Tornou o português a língua oficial em todo o território do Brasil.

Declínio e morte

Efetivamente, Melo governou Portugal até a morte de D. José I em 1777, quando ele foi sucedido por sua filha, Dona Maria I, cujo marido, tornou-se Dom Pedro III, um rei consorte. D. Maria I era uma católica devota e sob a influência de padres jesuítas, em decorrência de que o Marquês de Pombal era um desafeto. Assim que subiu ao trono, ela fez o que havia prometido: retirou todos os cargos políticos de Melo.

Dona Maria I também emitiu uma das primeiras ordens de restrição da história, ordenando que o marquês não estivesse a menos de 32 quilômetros de sua presença. Se ela viajasse perto de suas propriedades, ele era obrigado a se retirar de sua casa para cumprir o decreto real. Diz-se que a menor referência em sua audição a Pombal induzia ataques de raiva na rainha. Dona Maria I era conhecida inicialmente como ‘a piedosa’, mas mais tarde ficou evidente que a sua piedade era uma exagerada manifestação de sua insanidade, e após ser interditada em 1792, entrou para a história como ‘a louca’. Logo no início do seu governo, de 1777 a 1792, ela afastou o Marquês de Pombal da corte, depois que este foi acusado de corrupção e condenado num julgamento fantoche. Entretanto, para mostrar-se como benemérita, a rainha fez publicar uma decisão dizendo que perdoava ao marquês por seus crimes e, como era senil e doente, não se exigiria que ele saísse do país.

Em Oeiras, entre Lisboa e Cascais, Pombal havia construído um belo palácio, completo com jardins franceses formais, com paredes decoradas com tradicionais azulejos portugueses e vinhedos entremeados por chafarizes e córregos artificiais. Entretanto, devido a proximidade do Palácio de Oeiras com Lisboa, após o seu banimento da corte, Pombal foi morar num solar de campo de propriedade de seu tio-avô, na vila de Pombal (Leiria), onde morreu placidamente em 1782, aos 82 anos.

Pombal foi enterrado no cemitério da igreja do convento de Santo Antônio, na vila de Pombal. Em 1856/7, o Marechal Saldanha, seu neto por via materna, trasladou para Lisboa os restos mortais do marquês, que foram depositados na ermida das Mercês, onde o Marquês de Pombal fora batizado e que pertencia à irmandade. Em 1923, os restos mortais passaram em definitivo para a Igreja da Memória, em Lisboa, onde se encontram até ao presente.

O julgamento da História

D. Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, recebeu o julgamento da história em prestações. Foi déspota, líder cruel e implacável, e déspota esclarecido. Talvez a maior mancha na sua reputação foi ter permitido o julgamento rápido dos acusados do crime de tentativa de regicídio contra D. José I. Essa é uma acusação procedente pois a justiça para ser justa precisa ser isenta de influência política. Por outro lado, os crimes de lese-majesté eram considerados hediondos e acompanhados de pena de morte.

O terremoto de Lisboa de 1755 foi a primeiro grande calamidade da Europa a ser explicada ao povo pelas suas causas naturais e não pela vontade Divina e outras a causas improváveis. A atuação de Pombal foi crucial para essa mudança, e o colocou no centro do Iluminismo. Quando não era mais possível retirar de Pombal o rótulo de ‘iluminado’, ele passou a ser chamado ‘déspota esclarecido’.

Um dos mais cruéis julgamentos de Pombal, anteriormente mencionado, afirma que o ‘iluminismo’  do marquês foi primariamente um mecanismo para aumentar a autocracia às custas da liberdade individual e, especialmente, uma aparelhagem para esmagar a oposição, suprimir críticas, e ampliar a explotação econômica colonial, bem como intensificar a censura da imprensa e  consolidar controle e ganhos pessoais. Entretanto, esse julgamento é típico da miopia dos ideólogos de esquerda e sua noção de que a sociedade é formada por opressores e oprimidos.

O governo português reconheceu os feitos do Marquês de Pombal em 1934, com a construção um importante monumento histórico colocado na praça em Lisboa que também leva o seu nome, no topo da Avenida da Liberdade. Em 1978, na cidade de Pombal, foi criado o Museu Marquês de Pombal, que guarda a coleção de objetos relacionados ao marquês, colecionados pelo antiquário Manuel Gameiro. E, no município Oeiras, onde Pombal construiu seu magnífico palácio, marca com um feriado a data em que Sebastião José Carvalho e Melo foi elevado à dignidade de Conde de Oeiras, em 7 de Junho de 1759.

Diversas biografias recentes do Marquês de Pombal, aparentam oferecer julgamentos bem mais equilibradas do que os até então vigentes, como as abaixo citadas.

_ Maxwell, Kenneth. Pombal: Paradox of the Enlightenment. (Pombal: Paradoxo do Iluminismo; 1996). (Veja abaixo a resenha de Derek Beales)

_ Barata, José. A vida e a obra do Marquês de Pombal. O Homem e o Estadista. 2016. 160 p.

_ Azevedo, João Lúcio. O Marquês de Pombal e a sua época. Wentworth Press, 2019.

Em conclusão, o bom senso é muito mais chegado à objetividade do que a ideologia, que é sempre acompanhada de vieses. Na vida real, a maior parte das pessoas tem suas boas qualidades e seus defeitos, bem como os seus acertos e seus erros, e tudo deve ser levado em conta no julgamento honesto da história. O Marquês de Pombal não foi um santo mas tampouco foi o demônio como muitos o pintaram.

Figura 1. Marquês de Pombal.

Figura 2. Praça rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, a 19 de março, dia seguinte ao decreto de ‘estado de emergência’ do Covid19. Foto de João Pedro Morais, do Observador.

Nota. Marquês de Pombal: O déspota esclarecido

Derek Beales

Resenha do livro Pombal: Paradox of the Enlightenment by Kenneth Maxwell. Cambridge University Press, 1995, 200 pp.

Por duas vezes na sua história, Portugal teve um papel de liderança na Europa. No século XV, foi pioneiro em explorações e descobertas em outros continentes, o que resultou em sua transformação num vasto império, que incluía postos avançados na Ásia, partes substanciais da África e metade da América do Sul, principalmente no atual território do Brasil. Outras potências logo seguiram o exemplo de Portugal – embora não a Áustria. O império português ainda estava em grande parte intacto, e no Brasil ainda estava em expansão, quando em 1759 Portugal tomou outra grande iniciativa, a expulsão e expropriação dos jesuítas da pátria e de suas colônias. Um por um, os outros poderes católicos, novamente com a grande exceção da Áustria, seguiram o exemplo de Portugal. Em 1773, a pressão deles sobre o papa Clemente XIV se tornou forte demais para ele resistir, e ele decretou a supressão total da ordem jesuíta. A Áustria obedeceu.

A primeira iniciativa de Portugal foi certamente uma das mais significativas da história registrada. Se o segundo não pode ser colocado na mesma classe, ainda foi um evento que surpreendeu o mundo e o mudou muito. Ninguém duvida que um homem tenha sido o principal responsável pela expulsão de Portugal dos jesuítas: o marquês de Pombal, o primeiro ministro do rei José I durante todo o seu reinado de 1750 a 1777. É a ação pela qual Pombal é mais conhecido, mas ele foi um governante excepcionalmente enérgico e implacável, que tentou transformar a maior parte dos aspectos da economia e da sociedade de seu país. O historiador Leo Gershoy o chamou de “o reformador mais espetacular e dinâmico do século” – uma reivindicação grande feita ao escrever sobre a era de Pedro, o Grande e Catarina, a Grande da Rússia, Frederick William I e Frederick, o Grande da Prússia, Maria Teresa e José II da Áustria e seu ministro, o príncipe Kaunitz.

A nova biografia de Pombal, de Kenneth Maxwell, é uma conquista notável. Em apenas 166 páginas de texto, nas quais também foram encontradas 47 ilustrações, ele explica os desenvolvimentos no Brasil e em Portugal, coloca os dois países em seus cenários mundiais, expõe a carreira do ministro, seus objetivos e ações, e depois os discute como um caso de despotismo esclarecido – tudo com evidente domínio e deleite. O livro é baseado em uma extensa pesquisa, que rendeu algumas citações esplendidamente apontadas. Se muito disso já figurou em Conflitos e conspirações: Brasil e Portugal, 1750–1808, de Maxwell, a concentração no próprio Pombal nesta biografia levou-o a considerar muitos assuntos não relevantes para o livro anterior, como a reforma educacional e a reconstrução de Lisboa, com a qual Pombal esteve profundamente envolvido. Pombal representa um imenso avanço sobre qualquer coisa publicada anteriormente em inglês sobre o assunto e, até onde eu sei, não há nada comparável a isso em qualquer idioma.

O primeiro problema sobre Pombal é o seu nome. Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu em 1699 em uma família nobre. Em 1759 foi designado conde de Oeiras, e apenas em 1769 marquês de Pombal. A sua carreira começou…

Resenha publicada em inglês no The New York Review of Books. April 18, 1996. Tradução de JPO.

Marchis of Pombal: The Enlightened Despot

Derek Beales

Review of the book Pombal: Paradox of the Enlightenment by Kenneth Maxwell. Cambridge University Press, 1995, 200 pp.

Twice in its history Portugal has had a leading part in Europe. In the fifteenth century it pioneered explorations and discovery in other continents, ending up with a vast empire including outposts in Asia, substantial parts of Africa, and half of South America, mostly now the territory of Brazil. Other powers soon followed Portugal’s example –t hough not Austria. The Portuguese empire was still largely intact, and in Brazil was still expanding, when in 1759 Portugal took another great initiative, the expulsion and expropriation of the Jesuits from both the mother country and its colonies. One by one the other Catholic Powers, again with the major exception of Austria, followed Portugal’s example. In 1773 their pressure on Pope Clement XIV became too strong for him to resist, and he decreed the total suppression of the Jesuit order. Austria complied.

Portugal’s first initiative was surely one of the most significant in recorded history. If the second cannot be put in quite the same class, it was still an event that astounded the world and greatly changed it. No one doubts that one man was essentially responsible for Portugal’s expulsion of the Jesuits: the Marquis de Pombal, the prime minister of King José I throughout his reign from 1750 to 1777. It is the action for which Pombal is best known, but he was an exceptionally energetic and ruthless ruler who attempted to transform most aspects of his country’s economy and society. The historian Leo Gershoy called him “the most spectacular and dynamic reformer of the century”– a large claim to make when writing about the age of Peter the Great and Catherine the Great of Russia, Frederick William I and Frederick the Great of Prussia, Maria Theresa and Joseph II of Austria and their minister, Prince Kaunitz.

Kenneth Maxwell’s new biography of Pombal is a remarkable achievement. In only 166 pages of text, in which room has also been found for forty–seven illustrations, he explains developments in Brazil as well as in Portugal, places both countries in their world setting, expounds the minister’s career, his aims and actions, and then discusses them as a test case of enlightened despotism  – all with evident mastery and relish. The book is based on extensive research, which has yielded some splendidly pointed quotations. If much of it has already figured in Maxwell’s Conflicts and Conspiracies: Brazil & Portugal, 1750–1808,2 his concentration on Pombal himself in this biography has led him to consider many matters not relevant to the earlier book, such as educational reform and the rebuilding of Lisbon, with which Pombal was deeply involved. Pombal represents an immense advance on anything previously published on its subject in English, and, so far as I know, there is nothing comparable to it in any language.

The first problem about Pombal is his name. He was born in 1699 into a gentry family, as Sebastião José de Carvalho e Melo. In 1759 he was created count of Oeiras, and only in 1769 marquis of Pombal. His career started…

….

The New York Review of Books. April 18, 1996.


[1] O Iluminismo, ou ‘século das Luzes’, foi um movimento intelectual da segunda metade do século XVII nos países mais avançados da Europa, caracterizado por uma visão de mundo inteiramente naturalista, em contrapartida à visão supernaturalista que até então dominava. Embora o naturalismo já estivesse bem assentado nas mentes mais avançadas do século XVII,  foi apenas no século XVIII que as pessoas ordinárias começaram a se interessar tanto pelas ciências naturais quanto pelas ciências sociais e políticas.

[2] Dona Maria I conhecida como ‘a rainha louca’ foi eventualmente interditada, sendo que o governo de Portugal passou para o Príncipe Regente D. João, que após a morte de Dona Maria I passou a ser D. João VI.

[3] A Royal Society é uma das primeiras academias de ciência do mundo, fundada em Londres em 1660.

[4] É pertinente lembrar a situação política da época tanto Grã Bretanha quanto na Áustria.  Na Grã Bretanha, o monarca reinante era George II (r. 1727-1760), da casa de Hannover, escolhida pelo parlamento para ascender ao trono Britânico em 1714, tomando o lugar da casa dos Stuart. Precisamente no reinado de George II, Charles Edward, filho de James Francis Stuart e bisneto de James II, o último rei Stuart da Grã Bretanha, chega à Escócia para tentar reaver o trono britânico, provocando uma série de batalhas, sendo a última a de Culloden, em abril de 1746. Na Áustria, o poder monárquico centrava na Imperatriz Maria Teresa (r. 1740-1780), e não no seu marido, Francisco (François Étienne ou Francico Estevão), que era natural de Lorena (atualmente na França), o qual foi eleito Sacro Imperador Romano, com a designação de Francisco I.  Maria Teresa e Francisco I tiveram dezesseis filhos, dentre os quais a ultima rainha da era pre-revolucionaria da Franca, Maria Antoinette. (1755–1793).

[5] Maria Ana Josefa de Áustria (Linz, 7 de setembro de 1683 – Lisboa, 14 de agosto de 1754) era filha do imperador Leopoldo I, e da sua terceira mulher, a condessa Leonor Madalena. Era irmã dos imperadores José I e Carlos VI, também pretendente ao trono espanhol, e meia-irmã de Maria Antônia de Áustria, eleitora da Baviera, entre outros. Foi rainha consorte de Portugal de 1708 a 1750, enquanto mulher do Rei D. João V de Portugal. Três dos seus filhos sentaram-se no trono: D. José, Rei de Portugal, D. Pedro, rei-consorte de Portugal pelo seu casamento com a sua sobrinha, e D. Maria Bárbara, Rainha de Espanha pelo casamento.

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Este artigo foi publicado em PortVitoria, revista semestral da cultura ibérica no mundo.

Sobre a localidade polonesa de Przyjmy

Jo Pires-O’Brien

Uma leitora carioca cuja bisavó nasceu na vila de Przyjmy na Polônia, perguntou-me se eu poderia ajudar a explicar a situação política dessa localidade em decorrências das guerras. O que eu consegui esclarecer encontra-se na presente postagem.

Przyjmy

Examinado o mapa da Google vi que há uma localidade designada Przyjmy localizada no distrito administrativo da Comuna de Brańszczyk, Município de Wyszków, Província da Masóvia, no centro-leste da Polônia. Przyjmy fica a 52 km de Wyszków e a 76 km de Varsóvia, e em relação a acidentes geográficos, fica mais ou menos entre os lagos de Rybakówka e o Rio Bug.

Pelo que pude constatar, a localidade Przyjmy permaneceu na Polônia desde a recriação deste país em 1917.

A Província da Mazóvia

Quando o rei Boreslau III da Polônia dividiu o seu reino entre os seus filhos em 1138, a Mazóvia virou um principado.  Durante a Idade Média, a Mazóvia era subdividida em três regiões administrativas, cada qual subdividida em ‘terras’ (polonês: ziemie, latim: terrae), por sua vez divididas em condados (polonês: powiat; latim: districtus). A união Polônia-Lituânia, do acordo de Lublin de 1569, estabeleceu a Mazóvia como sua região central, com sua capital em Varsóvia.

A Mazóvia passou a ser a província mais importante da Polônia em 1596, quando o Rei Sigismundo III Vasa, mudou a capital de Cracóvia para Varsóvia.

A Mazóvia nos séculos XVII e XVIII foi invadida por diversos povos incluindo suecos, transilvanos, saxões e russos.

A primeira partição da Polônia, ocorrida em 1772, passou a união Polônia-Lituânia para o controle da Rússia. Na segunda partição da Polônia, em 1793 uma parte da Masóvia passou para o domínio da Prússia, e enquanto que o restante foi anexado na terceira partição, de 1795, o ano em que a Polônia desapareceu do mapa.

A Prússia e todos os seus territórios, incluindo aqueles tomados da Polônia, foi incluída na Confederação (Reichstag) Germânica do Norte, após o Tratado de Praga de 1866, a primeira etapa da unificação da Alemanha por Bismarck. A segunda etapa terminaria apenas depois da vitória da Prússia na guerra franco prussiana de julho de 1870 a maio de 1871, quando a Confederação (Reichstag) Germânica do Sul foi reconhecida.

Com as terras da Polônia encontravam-se ocupadas pela Rússia, Prússia e Áustria, durante a Primeira Guerra Mundial o povo polonês encontrou-se dividido nos dois lados desse conflito. Além disso, é preciso lembrar que embora a Áustria e a Alemanha fossem aliadas nesse conflito, a cultura política e social desses dois países era bastante diferente  (a Áustria era bem mais liberal que a Alemanha) e o que era outro problema para o povo polonês.

Devido à sua posição central e outros fatores, a Mazóvia é considerada o esteio da cultura polonesa, fato que continuou mesmo durante as ocupações estrangeiras.

A Mazóvia é o local de nascimento de diversos poloneses ilustres como:

Frederic Chopin (1810-1849)                         Pianista

Maria Sklodowska-Currie (1867-1934)          Física

Witold Gombrowicz (1904-1969)                  Escritor

Jan Kochanowski (1530-1584)                       Poeta

Oskar Kolberg (1814-1890)                            Etnógrafo

Zygmunt Krasinski (1812-1859)                     Poeta

Cyprian Kamil Norwid (1821-1883)              Escritor

Henryk Sienkiewick (1846-1916)                   Escritor

Boreslaw Prus (1847-1912)                            Escritor e divulgador do positivismo Comtiano

Casimir Pulaski (1745-1779)                           Fundador da cavalaria americana

 

A Mazóvia atual é um importante destino turístico, cujas principais cidades, Varsóvia, Plock e Radom, foram reconstruídas após as destruições sofridas durante a Segunda Guerra mundial. Outra atração da Mazóvia é o Parque Nacional de Campinos, que conta com 38,544 hectares.


Jo (Joaquina) Pires-O’Brien é editora de PortVitoria, revista da cultura ibérica.


 

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Sobre a cidade polonesa de Janiewiczach

Jo Pires-O’Brien

Uma leitora brasileira cujo sogro é um imigrante polonês natural de Janiewiczach, perguntou-me se eu sabia em que ano essa cidade havia sido ‘invadida’ pela Ucrânia. O texto abaixo é o resultado da pesquisa que fiz para responder tal pergunta.

As referências à cidade de Janiewiczach são bastante difícieis de se encontrar na internet. Uma biografia do pianista polonês Jan Kleczyński (1837-1895), obtida na internet, consta que o mesmo nasceu em Janiewiczach, na Volínea ou Lodomeria (inglês:Volhynia; Volyns’ka oblast – de Volodymyr-Volynski). Outras designações de Janiewiczach são Włodzimierz, Volodymyr. A localidade é considerada uma das mais antigas da Rutênia (atual Ucrânia) e foi fundada em terras que antes pertenciam à Polônia. No ano 988 a cidade virou a capital do principado de Volínea ou Lodomeria (Volodymyr).

A Volínea (Volhynia), ou Lodomeria, também já compôs o ducado ou principado de Galícia-Volínea (Halych-Volhynia), também na Rutênia, que posteriormente foi incorporado à Polônia. Galícia (Halych) era também o nome da principal cidade e capital, mas em 1256 o rei Daniel mudou a capital para Leópolis (L’viv) em homenagem ao seu filho Leo (Lev).

Após a primeira partição da Polônia em 1772, os nomes ‘Halych’ e ‘Volhynia’ foram latinizados para Regnum Galiciae et Lodomeriae, ou Galícia e Lodomeria. A Galícia passou para a Áustria e a Lodomeria para a Rússia.

A geografia da Galícia-Volínea consiste de uma área a oeste, situada entre os rios San e Wieprz, e uma área leste de brejos chamada Pripet. Ambas já haviam pertencido à Polônia, mas quando da reconstrução desta pelo Tratado de Versalhes, em 1918, apenas a Galícia (Halych) voltou a fazer parte do território polonês. A Lodomeria (Volhynia) foi alocada à Ucrânia, outro Estado criado pelo Tratado de Versalhes. A linha de partição cortou a Lodomeria (Volhynia) em duas, com a parte oeste na cidade de Lutsk (Luck). Entretanto, a alocação da Galícia e da Lodomeria à Polônia e Ucrânia não refleriu a realidade da condição social das duas regiões, cuja população maior consistia de poloneses.

A Revolução Bolchevique russa de 1917 criou o monstro da União Soviética, à qual a Ucrânia e diversas outras nações foram incorporadas. A Polônia resistiu à tentativa de incorporação pela União Soviètica, mas passou a sofrer constantes pressões sobre as suas fronteiras. Em 23 de agosto de 1939 a Alemanha e a União Soviética assinaram o Pacto Ribbentrop-Molotov de não agressão, então secreto. Segundo esse pacto, as tropas alemãs invadiriam a Polônia a oeste e a União Soviética faria o mesmo a leste. A invasão da Polônia pela Alemanha desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o Pacto Ribbentrop-Molotov foi desfeito quando a União Soviética sentiu-se ameaçada pela Alemanha. Apesar dos soviéticos terem se juntado aos aliados, o exército vermelho continuou a invadir a Polônia pela sua fronteira leste, aproveitando o fato de que quase toda a defesa da Polônia ficava na parte oeste. A Polônia fez uma corajosa tentativa de deter os soviéticos, mas sem sucesso. A invasão da soviética levou à chamada ‘quarta partição’ da Polônia, quando no fim de setembro de 1939, a União Soviética declarou que a Polônia não mais existia. Com o objetivo de fazer uma limpeza étnica na região, os soviéticos organizaram quatro ondas de deportações de poloneses. Apenas na segunda, cerca de 330 mil poloneses foram deportados para o Kazaquistão.

A situação da Polônia permaneceu desesperadora durante toda a Segunda Guerra, pois os poloneses tinham que combater não apenas a invasão nazista mas também os soviéticos e as milícias ucranianas que agiam em conluio com os invasores nazistas. O ataque maior ocorreu em 1941, quando a região da Galícia e Lodomeria (Halych-Volhynia), uma das mais populosas da Polônia, foi dizimada. No seu livro Danubia: A Personal History of Hapsburg Europe (2013) (leia a resenha em PortVitoria), Winder reconhece os motivos da exterminação da população dessa região, afirmando que um indivíduo podia ser morto ou expulso pelos mais diversos motivos, ‘por ser judeu, por ser polonês, por ser alemão, por ser rico, por ser pro-nazista ou pro-comunista’.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, os aliados cederam à pressão da União Soviética e passaram para a Ucrânia uma gigantesca área do leste da Polônia. Tal área incluiu a maior parte da Galícia (Halych) e a porção da Lodomeria (Volínea; Volhynia) que a Polônia ainda possuía, incluindo as cidades de Leópolis (L’viv ou Lwow), Grodno (Hrodna), Lutsk (Luck) e Stanislaw (Stanislawow). A cidade de Wílnius (Wilno) Vilno, passou para a Lituânia.

 


Jo (Joaquina) Pires-O’Brien é uma brasileira de Vitória residente na Inglaterra, de onde edita a revista eletrônica PortVitoriade atualidades, cultura e política, e, centrada na cultura ibérica e sua diáspora no mundo. PortVitoria é estruturada em inglês mas os seus artigos e saem em inglês, português e/ou espanhol. Em 2016 ela publicou um livro de ensaios em e-book, intitulado O homem razoável, à venda no portal www.amazon.com.br (R$24). A versão em espanhol, El hombre razonable y otros ensayos, também está à venda nos portais da Amazon.

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