A linguagem do sucesso

Joaquina Pires-O’Brien

Os problemas da comunicação deficiente afetam tanto os indivíduos quanto as organizações. Empregadores costumam reclamar da dificuldade em obter pessoal capaz de redigir bem cartas e documentos do trabalho. Professores reclamam que a superlotação das salas de aula não lhes permite aplicar mais redações e provas discursivas. Cada um de nós, com certeza, já vivenciou alguma situação de fracasso na comunicação com pessoas da própria família e com pessoas do seu trabalho. É indiscutível que o bom ajuste na sociedade requer saber como comunicar bem.

Language in Coaching and for Best Results (A Linguagem no Treinamento Pessoal e para Melhores Resultados, tradução livre) é o título de um seminário oferecido pelo Instituto de Linguística de Londres, do qual eu participei. A palestrante era uma profissional autônoma que treina profissionais a usar criatividade na comunicação com as outras pessoas e o objetivo do seminário era mostrar como o uso de melhores técnicas de comunicação poderia ajudar tradutores e outros profissionais autônomos. O tópico principal abordado foi o sistema de comunicação da linguagem sensorial. Antes de prosseguir, quero ressalvar o motivo pelo qual optei pela palavra ‘linguagem’ e não pela palavra ‘língua’ ao traduzir a palavra ‘language’, que no inglês tem os dois sentidos. É que domínio da palavra ‘linguagem’ é maior do que o domínio da palavra ‘língua’, pois ‘linguagem’ engloba a língua e os outros sistemas de comunicação associados.

Tanto a língua quanto a linguagem são repletas de ambiguidades. Entretanto, as ambiguidades da língua e da linguagem são também instrumentos da retórica, a ciência da persuasão ou a arte de ‘falar bem’. Ensinada desde a antiga Grécia, a retórica teve um espaço importante na educação até a renascença, quando passou para as áreas restritas da filosofia, psicologia e sociologia. O fato da retórica não mais fazer parte do sistema educacional teria criado o nicho de mercado do treinador (coach) em comunicação criativa, que ensina como adequar a nossa linguagem ao sistema de comunicação sensorial.

No seminário a que compareci a palestrante mostrou a influência dos nossos sentidos – tato, paladar olfato, audição e visão – na linguagem. Cada pessoa enfatiza de forma diferente os seus sentidos. Há pessoas que têm um senso muito apurado de audição e outras que têm uma maior capacidade no aspecto visual ou no olfato, e pessoas que são altamente táteis. Existem também existem as pessoas “cinestésicas”, que tem afinidades com movimentos, gestos, mímicas. Os sentidos também se combinam de uma maneira diferente em cada pessoa. Estas premissas permitem deduzir que cada pessoa tem uma linguagem sensorial própria, que o bom interlocutor deve tentar decifrar a fim de melhorar a sua comunicação.  Assim, uma pessoa que tende a usar frases do tipo ‘isso não me cheira bem’, seria um utilizador da linguagem olfativa. Uma outra pessoa que diz ‘eu não vejo porque isso seria problema’, seria um utilizador da linguagem visual, e assim por diante. A lição pode ser  resumida na seguinte frase: ‘o segredo da comunicação eficaz é afinar a nossa própria linguagem com a linguagem sensorial do nosso interlocutor’. Entretanto, não vamos nos esquecer que a percepção da  linguagem sensorial é uma vantagem extra. O arroz com feijão da boa comunicação continua sendo o léxico e a gramática.


Agradecimento: Carlos Pires, revisor

Jo Pires-O’Brien é editora de PortVitoria, revista da cultura ibérica no mundo.
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Um resumo da história da Polônia

Joaquina Pires-O’Brien

A construção do estado da Polônia começou no século X, influenciada tanto pela chegada do cristianismo em 966, quanto pela posterior percepção das ameaças de seus poderosos vizinhos como a Rússia, a Prússia e a Hungria. No século X a Polônia consistia do território dos vales dos rios Vistula e Oder. A conversão ao cristianismo aproximou o então principado à Europa ocidental e levou à sua expansão quando passou a incluir a Pomerânia báltica, a Silésia e a Pequena Polônia. O polonês é uma língua do grupo eslavônio ocidental –com afinidade com o checo, o eslovaco e o sórbio.

Não existe um registro histórico sobre a origem da realeza da Polônia. Entretanto, de acordo com uma lenda do século XII, a primeira dinastia, Piast, formou-se na segunda metade do século IX a partir de um humilde filho de lavrador, Siemowit (Ziemowit), que sucedeu o Príncipe Popiel de Gnesen (Gniezno). Embora somente no século XVII o nome Piast passou a ser usado para designar tal dinastia, se aceita que a dinastia Piast manteve o poder na Polônia até o ano de 1370. Mieczyslaw ou Mieszko I, considerado o quarto príncipe da dinastia Piast, teria reinado entre 963 e 992. Mieszko I precisou combater inimigos diversos e depois de ser vencido pelos Wends, buscou a proteção do imperador Germânico, o que levou à aceleração do processo de cristianização da Polônia. Mieszko I governou territórios que mais tarde foram designados como Grande Polônia e que possivelmente incluía a Mazovia. O príncipe Bolesław I, o Bravo, que reinou de 992 a 1025, continuou a expansão territorial do país, fortaleceu a administração interna. A sua coroação como rei, pouco antes de sua morte, é um marco importante da construção do estado da Polônia, que deixou de ser um principado para ser um reino: a Grande Polônia (Wielkopolska). Com a ajuda de Otto III, o Sacro Imperador Romano, por volta do ano 1000 foi criado o primeiro bispado da Polônia, em Cracóvia. Adalberto, o seu primeiro bispo, é hoje o santo patrono da Polônia.

O rei Boleslaw III (1102-38) fez a primeira partição da Grande Polônia entre seus três filhos, na expectativa que os sub-reinos pudessem continuar unidos sob a ascendência do reino de seu filho mais velho, cujo território ia da Pequena Polônia, a oeste, até a Polônia central e desta até a costa do Mar Báltico, incluindo a Pomerânia oriental e Gdansk. Entretanto, a divisão apenas serviu para enfraquecer a Polônia e atrair invasões vizinhas.

Foi também durante a dinastia Piast que a ordem religiosa-militar dos Cavalheiros Teutônicos vieram para a Polônia. Inicialmente eles vieram a pedido de Konrad I da Mazovia, para ajudar a defender a Polônia dos invasores. Entretanto, uma vez na Polônia eles formaram de fato um mini-estado em torno do enorme castelo forte que construíram em Malbork. A Ordem Teutônica chegou a ser o principal poder militar de toda a Europa.

Em 1457, os mercenários dos Cavaleiros Teutônicos tomaram o castelo de Malbork e o venderam ao Rei da Polônia. Sob a direção do Grão-Mestre Alberto (Albrecht) Hohenzollern, os Cavaleiros Teutônicos se mudaram para Königsberg, na Prússia, a qual foi convertida em um ducado hereditário e com ascendência sobre o Reino da Polônia. Entretanto, a partir daí, a ordem dos Cavaleiros Teutônicos passou a ver o rei da Polônia como inimigo e o posto de Grão-Mestre passou a ser dado apenas a príncipes alemães. Hohenzollern é reconhecido não apenas por ter sido o último Grão-Mestre dos Cavaleiros Teutônicos na Polônia, mas também por ter se convertido à Reforma Protestante iniciada em 1517 por Martinho Lutero (1483-1546).

A União Polônia-Lituânia

Devido a proximidade com a região vizinha da Lituânia, em 1569 a Polônia formou com a Lituânia uma aliança política que resultou na união Polônia-Lituânia. A partir da segunda metade do século XVII o estado da Polônia-Lituânia entrou em declínio devido a guerras constantes. Embora no século XVIII um plano de reformas tenha sido elaborado para reerguer o estado, as investidas de três países vizinhos: a Rússia, a Prússia e a Áustria extinguiu a aliança Polônia-Lituânia.

Problemas da Sucessão Real e as Três Repartições

O Tratado de Paz de Westphalia de 24 de outubro de 1648, que envolveu cerca de 194 estados, pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, que se desenrolou principalmente em solo alemão, e da qual paticiparam suecos, dinamarqueses, poloneses, russos, holandeses e suíços. O maior pivô da Guerra dos Trinta Anos foi a tentativa da Áustria, cujo monarca acumulava o título de Sacro Imperador Romano, de impor o catolicismo na região. Uma das consequências do Tratado de Westphalia foi o reconhecimento de que doravante as pessoas teriam que tolerar as religiões umas das outras.

A Suécia, luterana, invadiu a Polônia, católica, enviando uma coluna de tropas na direção da Grande Polônia, e outra na direção da Lituânia, em 25 de julho e 8 de setembro de 1655. Os nobres e magnatas poloneses se renderam. Ainda em 1655 o rei polonês, Jan Kazimierz Vasa, fugiu de Varsóvia e passando por Cracóvia e Czorsztyn chegou à Silésia, parte do Reino Tcheco. De lá ele mandou uma carta à nação chamando “pessoas de todas as condições e posições” a lutar pela liberdade. De início a maioria da população aceitou Carl Gustav, da suécia, como rei, possivelmente imaginando que os suecos respeitariam a sua religião. Depois que os suecos sitiaram o mosteiro dos Paulinos em Jasna Gora, a nova ordem introduzida na Polônia deteriorou. No início de 1656 o rei Jan Kazimierz Vasa retornou à Polônia com um exército com algum sucesso. A França enviou uma missão diplomática para mediar a paz, e um tratado foi assinado em 3 de maio de 1660. Através desse tratado, o rei polonês Jan Kazimierz abriu mão de reivindicar o trono sueco e a Suécia e a Polônia restabeleceram as suas fronteiras de antes da guerra.

Grand Hetman Jan Sobieski (1629-96), um natural de Lemberg ou Leópolis, Galícia, organizou uma defesa bem sucedida, e como prêmio foi eleito rei em 1674, passando a ser conhecido como Jan (John) III da Polônia e Grão Duque da Lituânia. Ele também ajudou a defender Viena conta os turcos otomanos.

Em 1657 a Polônia se rendeu ao Ducado da Prússia fazendo com que passasse a ser governada por esta, através da linhagem Hohenzollern.

A casa de Hohenzollern é uma dinastia formada por descendentes dos ex-monarcas de Hohenzollern, Brandenburg, Prússia, principados diversos do Alemanha e România. A família Hohenzollern partiu-se em dois ramos, o Swabiano e o Franconiano, o primeiro católico e o segundo protestante.

Em 1674, Jan III Sobieski, o rei eleito da Polônia, tentou estabelecer o sistema de hereditariedade mas não conseguiu devido à oposição da nobreza. Seu substituto foi Frederico Augusto (o Forte) (1670-1733), eleitor da Saxônia, eleito em 1697 como Frederico Augusto II. Durante a Grande Guerra do Norte, contra invasores da Suécia, ele deixou a Polônia em 1701, mas conseguiu retomar a coroa em 1709, depois da derrota da Suécia, em Potava. Foi sucedido por Stanislaw I, Leszczynski (1677-1766), sogro de Luis XV da França (sua esposa chamava-se Maria Leszczynski). A ascenção de Frederico Augusto III (1696-1763), filho de Frederico Augusto (o Forte), pôs às guerras pela sucessão polonesa. Frederico Augusto III ficou no trono polonês de 1734 a 1763. Após a morte de Augusto III, este foi sucedido por Frederick Christian (1696-1763), o qual morreu poucos meses depois.

A Imperatriz Catarina II da Rússia decidiu que era a hora de dar partida aos seus planos em relação à Polônia, e para tal, colocou Stanislaw II, um ex-amante seu, no trono da Polônia. Stanislaw II tentou fazer reformas mas Catarina II o impediu. Uma rebelião nacionalista polonesa que contou com o apoio dos Turcos Otomanos e provocou uma guerra com a Rússia, e a vitória da Imperatriz Catarina II culminou na primeira das três partições da Polônia, em 1772. Depois dessa a Polônia teve mais duas partições, em 1793 e em 1795. A Rússia juntou-se à Prússia e à Áustria para planejar a aniquilação completa da Polônia ocorrida na segunda metade do século XVIII.

A primeira partição da Polônia foi planejada principalmente por Frederico o Grande da Prússia e ocorreu a despeito da resistência dos poloneses. A Prússia cortou um bloco de terras a noroeste enquanto que a Rússia ficou com um bloco maior ao leste. A imperatriz Maria Teresa da Áustria e o seu filho José decidiram tomar para a Áustria um vasto território no sudoeste, incluindo a Pequena Polônia (Matopolska), o oeste da Podolia e a Galícia-Volínea (Halych-Volhynia) que subsequentemente tornou-se conhecida como Galícia.

Como os países da Europa Oeste não se opuseram à primeira partição, a Rússia e a Prússia planejaram a segunda partição da Polônia, que ocorreu a despeito da resistência dos poloneses. Na segunda partição da Polônia, que totalizou uma área de 300 mil quilômetros quadrados, a Rússia, ainda sob Catarina II, ganhou uma parte da Bielorussia Lituânia e o Oeste da Ucrânia, incluindo Podolia e parte da Volhynia. A Prússia, já sob o reinado de Rei Frederico II, ganhou Gdansk (Danzig), Torun, a Grande Polônia e parte da Mazóvia.

A terceira partição da Polônia foi uma reação da Rússia, Prússia e Áustria às rebeliões na Polônia e envolveu uma área de 215 mil quilômetros. A Rússia incorporou a Courtland, o território lituano a leste do rio Nieman, e o restante da Volhynia ucraniana. A Prússia incorporou o remanescente da Mazovia incluindo Varsóvia e a parte da Lituania a oeste do rio Nieman. A Áustria incorporou o remanescente da Pequena Polônia, Cracóvia mais a região a noroeste do arco norte do rio Bug.

Resumindo, a Polônia em 1773 era um país economicamente arruinado e cercado por três potências que a cobiçavam para si. A Rússia, a Prússia e a Áustria planejaram e executaram um plano para aniquilá-la de uma vez por todas. Pressionado pela Rússia, Prússia e Áustria, em 1795 o rei Stanislaw II (Stanislaw August Poniatowski) da Polônia abdicou, fazendo com que a Polônia sumisse do mapa nos próximos 123 anos.

Territórios sob a Rússia

A Rússia, sob Catarina II (a Grande, 1729-96), ficou com a parte maior do território. Apesar de ser considerada uma déspota esclarecida, que reformou a administração do governo e modernizou a Rússia, Catarina discriminou e perseguiu as minorias étnicas como os pomeranos e os judeus. Após a morde de Catarina II, esta foi substituída pelo seu filho Pavel (Paulo) I (1754—1801), o qual foi substituído por Alexandre I (1777-1825) que supostamente simulou a própria morte a fim de entrar num mosteiro. Alexandre I foi sucedido por Constantine Pavlovitch (1779-1831), este por Nicholas I (1776-1855).

O czar Nicholas, que reinou de 1825 a 1855, tirou o pouco de autonomia que a Polônia tinha e suprimiu com enorme brutalidade a revolta de 1830 a 1831. Após sua morte em 1855, ele foi sucedido pelo seu filho mais velho Alexandre II (1818-81), que reinou de 1855 a 1881. A fim de conter a crescente ameaça de rebeliões internas, Alexandre II introduziu reformas favoráveis aos campesinos, procurando ganhar seu apoio. Entretanto, o vice-rei Teodor Berg, que governava o território da Polônia, impôs sobre o mesmo em um duro regime que enfureceu ainda mais a população. De 1860 a 1861 uma onda de protestos em toda a Polônia em memória do aniversário da revolta de 1830 a 1831 atingiu toda a Polônia. Embora o exército rebelde no sul da Polônia tivesse sobrevivido ao inverno de 1863–64, diversos líderes da rebelião foram presos e executados em 1864, marcando o fim da insurreição. Tais rebeliões levaram o czar a introduzir uma política de russificação da Polônia, principalmente das escolas secundárias e universidades.

A suposta morte de e Alexandre I abriu a vaga para seu irmão Constantino, mas como este foi demovido da linha de sucessão por ter se casado secretamente com uma polonesa, o posto foi para o terceiro irmão, Nicholas I (1796–1855). Em 1822, no primeiro dia do seu reinado o czar Nicholas I precisou conter uma rebelião que ficou conhecida como Rebelião de Dezembro. Preocupado com o aumento da violência interna, Nicholas implantou um estilo de governo autocrático e repressor, perseguiu minorias étnicas e religiosas, e procurou conter o pensamento liberal através do controle das universidades e da censura da imprensa.

A região da Polônia sob o regime da Rússia sofreu uma enorme repressão e instabilidade política e fez com que o período entre 1831 e 1870 entrasse para a história como a ‘Grande Emigração’ polonesa que incluiu os Ucranianos, uma vez que a Ucrânia fazia parte do território polonês, e os judeus. O destino dos imigrantes foi outros países da Europa, Estados Unidos, América Central e América do Sul.

Territórios sob a Prússia

A região conhecida como Prússia Oriental, ou Posen, era formada por territórios tomados da Polônia, incluindo Gdansk (Danzig) e Torun. A fim de solidificar a nova situação o monarca Frederick II introduziu uma politica de germanização da região. Ordenou que famílias alemãs se fixassem na região e aboliu o emprego da língua polonesa. Os poloneses na Prússia organizaram diversas revoltas como aquela organizada pela Comissão Nacionalista Polonesa. Se a dominação da Prússia trouxe algo positivo para os poloneses isso seria no setor de educação, pois as escolas prussianas eram consideradas boas. Entretanto, as crianças polonesas tinham que apreender em livros em alemão.

A partir de 1888 a Prússia desapareceu e em seu lugar surgiu o Império da Alemanha, formado pela unificação dos estados germânicos sob o Primeiro Ministro Otto Von Bismarck. Wilhelm II, o último herdeiro da dinastia Hohenzollern, tornou-se Imperador (Kaiser) da Alemanha, permanecendo no cargo até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando a derrota do Eixo pôs fim ao Império e deu origem à República.

Territórios sob a Áustria

A Áustria adquiriu terras polonesas após a primeira e a terceira partição da Polônia. Incluíam: o chamado Reino da Galícia e Lodomeria (1772 a 1918), a Galícia Oeste (1795-1809) e a cidade livre de Cracóvia (1815-46). Somando as duas partições, a Áustria recebeu 18 por cento das terras polonesas mas 32 por cento da população, cuja maior concentração ficava na Galícia (nome simplificado do Reino da Galícia e Lodomeria, cuja capital é Lemberg ou Leópolis) e em Cracóvia.

Os poloneses que viveram sob o domínio da Áustria foram mais bem tratados do que os que viveram sob o domínio da Rússia e da Prússia. Na tentativa de ganhar o apoio dos poloneses a Áustria lhes deu autonomia. Cracóvia e Lemberg cresceram e entraram no século XX como centros bastante prósperos.

A monarquia austríaca até ajudou os poloneses que desejavam imigrar. Por exemplo, durante o século XIX negociaram com o Império do Brasil o envio de levas de imigrantes[1].

O Restabelecimento do Estado da Polônia

Em 1854 a Grã-Bretanha, através do Lorde Palmerston, seu Primeiro Ministro, imaginou uma reorganização geral da Europa, através da qual a Prússia receberia Schleswig-Holstein e devolveria Posen a fim de recriar a Polônia. Entretanto, o plano de Palmerston não vingou e a Polônia só foi recriada em 1918, após a derrota do Eixo na Primeira Guerra Mundial.

O Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1918, devolveu à Polônia as terras ocupadas pela Alemanha que iam até o porto de Gdansk no Mar Báltico. Outras redemarcações de limites se sucederam a favor da Polônia. Pilsudski governou na transição até a eleição de 14 de dezembro de 1922.

A Alemanha foi forçada a devolver à Polônia o chamado Corredor de Danzig, causando a separação da província da Prússia Oriental do resto da Alemanha. Esta última foi repartida entre a Polônia e a Rússia. O antigo Rosenberg passou a fazer parte do Distrito de Itawa da Polônia, quando todas as suas aldeias foram renomeadas com nomes poloneses.

Em 11 de novembro de 1918 a Segunda República Polonesa foi criada e seu primeiro chefe de Estado foi Jósef Pilsudski (1867-1935), que governou até 1922. Entretanto, as perdas da Polônia na Primeira Guerra Mundial incluem não só as 800 mil pessoas que morreram mas também a destruição de suas fábricas e de quase toda a sua infraestrutura.

A Polônia depois da Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial a Polônia foi invadida pela Alemanha em 1º de setembro de 1939. No final da Segunda Guerra Mundial o território polonês foi mais uma vez reestruturado, quando uma faixa de terra a oeste passou a integrar a Rússia, ganhando em troca uma faixa mais estreita que anteriormente integrava a Alemanha. Foi devido a essa ultima reestruturação de fronteiras que a Pomerânia passou a pertencer quase que totalmente à Polônia com apenas uma pequena região na Alemanha.

Embora o governo da Polônia tivesse sido transferido para Londres durante a invasão alemã, no final da Segunda Guerra Mundial o mesmo não conseguiu reassumir o poder. Em 1947 quando isso poderia ter acontecido, teve início a Guerra Fria, na qual a Polônia se alinhou ao Bloco do Leste, das nações aliadas à União Soviética. A influência soviética foi permeada de preconceitos contra minorias étnicas incluindo os pomeranos e os judeus. Muitos se refugiaram na Alemanha Ocidental e muitos também emigraram para os EUA, Brasil e Austrália.

Ainda na década de 1950 a Polônia começou a se rebelar contra a dominação dos movimentos de trabalhadores pelo Partido Comunista Soviético. O Sindicato Solidariedade, criado em 1980, é o primeiro sindicato independente do Partido Comunista, sendo considerado o anteâmbulo da queda do Muro de Berlim em 1989.

Personalidades Famosas da Polônia

A Polônia deu ao mundo um grande número de personalidades importantes. São muitas as personalidades famosas da Polônia. As mais conhecidas incluem o falecido papa João Paulo II (Karol Wojtyla), o grande compositor Frederic Chopin, a física Maria Sklodowska-Curie, o astrônomo Nicolau Copérnico e o escritor Joseph Conrad (1857-1924, Jósef Teodor Konrad Korzeniowski), que nasceu em Berditchev, na Ucrânia, quando esta era uma província da Polônia (veja mais no post script abaixo).

A lista de poloneses de destaque mundial é bem maior. Há ainda o escritor Henryk Sienkiewicz (1846-1916), nascido em Wola Okrzejska, atual Lituânia, melhor conhecido pelos romances históricos, e por ter recebido o Nobel de literatura em 1905. Outro polonês de renome é Boleslaw Prus (1847-1912), jornalista e escritor, e um dos líderes do positivismo Comtiano na Polônia.

A cidade de Gdansk é o local de nascimento de muita gente famosa como o físico Gabriel Fahrenheit, o escritor Gunter Grass, o filósofo Arthur Schopenhauer, o astrônomo Johannes Hevelius e Lech Walesa, ex-líder do Movimento Solidariedade e ex-presidente da Polônia.


[1] Veja mais sobre os poloneses no Brasil na minha postgem ‘A diáspora polonesa no Brasil’. Também no século XX, o Brasil recebeu levas de imigrantes poloneses. Uma leitora brasileira do meu blog informou-me que seu sogro é um imigrante polonês oriundo de Janiewiczach, localidade da Volhynia, parte do antigo reino de Halych-Volhyni, subsequentemente renomeado reino da Galícia e Lodomeria, e, mais tarde, simplificado para Galícia, que passou para a Ucrânia após a 2ª Guerra Mundial.


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A diáspora polonesa no Brasil

Joaquina Pires-O’Brien

A minha primeira visita à Polônia de 17 a 24 de setembro de 2011 aumentou a minha curiosidade para com esse país e os seus habitantes bem como com a diáspora polonesa no Brasil. Dentre as diversas informações que encontrei na internet sobre a diáspora polonesa no Brasil, a monografia de Zdzisław Malczewski  intitulada “Os Poloneses e seus Descendentes no Brasil: Esboço Histórico e Situação Atual da Colônia Polonesa no Brasil” é sem dúvida um dos  documentos mais completos sobre o assunto. O que escrevo a seguir foi retirado desta e de outras fontes diversas.

Conforme mencionei anteriormente, o desfile folclórico do povo pomerano que eu assisti pela televisão no domingo dia 18 de setembro, me fez lembrar uma apresentação folclórica dos pomeranos capixabas que uma vez assisti em Vitória durante uma Festa dos Municípios da década de setenta. O desfile prosseguiu durante duas horas, apesar da chuva; a maioria dos participantes segurando guarda-chuvas. O desfile era muito bonito e cheio de carros decorados com pessoas vestidas com seus trajes tradicionais. Já que a Pomerânia é uma região da Polônia e não da Alemanha,  por que os pomeranos do Espírito Santo são comumente referidos como imigrantes alemães?  A resposta a essa pergunta encontra-se no próximo parágrafo.

Sobre os Pomeranos e a Imigração Polonesa no Brasil. Se a Pomerânia é uma região da Polônia, porque os pomeranos do Espírito Santo são comumente referidos como imigrantes alemães? A resposta da pergunta acima é encontrada na cultura da nação pomerana e não na nação-Estado onde a Pomerânia se situa.  No período entre 1831 e 1870, que entrou para história como a “Grande Emigração” polonesa, a qual incluiu a emigração de ucranianos uma vez que a Ucrânia fazia parte do território polonês, e de judeus, a Polônia havia desaparecido do mapa como estado independente (entre 1795 e 1914) e sua maior parte encontrava-se sob o domínio da Rússia. A instabilidade política mais a enorme repressão foi o motivo da emigração em massa dos poloneses não só para o Brasil, mas para outras partes da Europa e para as três Américas.

Os pomeranos (em língua pomerana Pommerer ou Pomerisch, palavra derivada do alemão que significa ‘habitante da terra das maçãs’) vivem na região histórica da Pomerânia ao longo da costa do Mar Báltico entre os rios Oder e Vístula e formam uma etnia descendente de tribos eslavas e germânicas. O pomerano é uma língua baixo saxônica contendo diversos dialetos. Os pomeranos que emigraram para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo, eram todos falantes do pomerano ocidental.

Embora hoje em dia a  Pomerânia encontre-se quase inteiramente na Polônia – uma pequena área se adentra para a Alemanha–, não era assim na época da imigração, quando parte da Polônia era governada pela Rússia, pela Prússia e pela Áustria.  A Polônia sofreu três partições do seu território: em 1772, 1793 e 1795. A partição de 1772 fez com que a Polônia perdesse territórios para a Áustria a Prússia e a Rússia. A segunda partição de 1793 resultou em outras perdas de território para a Rússia e a Prússia. A terceira partição de 1795 permitiu que a Rússia anexasse todo o território a leste dos rios Niemen e Bug, enquanto que a Áustria ficou com quase toda a Pequena Polônia , incluindo a Cracóvia, e a Prússia ficou com o restante, incluindo Varsóvia. Em decorrência dessa última partição a Polônia sumiu do mapa durante 123 anos, e em decorrência do Congresso de Viena, 1814-15, a maior parte do território da antiga Polônia foi anexado ao Império da Rússia, sob o governo de Catarina II (a Grande).

Independentemente do país-estado onde a Pomerânia se situa é inegável a influência germânica sobre a mesma. Tal influência é também percebida pela religião: os pomeranos, assim como os alemães, tendem a ser luteranos, enquanto que os poloneses são em geral católicos. A imigração pomerana no Espírito Santo em 1873 consistiu de 60 famílias descritas como ‘cidadãos alemães oriundos da Prússia, da Pomerânia e da Silésia’.  Um dos motivos que levou os pomeranos a emigrar foi a perseguição que sofreram devido à sua condição de grupo étnico minoritário.

Tanto o governo imperial do Brasil quanto o governo da nova república eram favoráveis à imigração, como forma de aumentar a mão de obra para a lavoura. Os estados do sul do Brasil, de São Paulo ao Rio Grande do Sul foram o destino preferido  dos imigrantes não só da Polônia quanto de outras partes da Europa central e leste. A imigração polonesa no Brasil começou ainda na década de 1820 no interior de São Paulo, e em Santa Catarina, nas cidades de Joinville e Blumenau. Entretanto a primeira leva significativa de imigrantes poloneses ocorreu na década de 70 do século XIX, em Santa Catarina (Blumenau) e Rio Grande do Sul,  numa leva de imigrantes que incluía alemães, russos, ucranianos e italianos.  Em 1873 chegaram ao Espírito Santo 60 famílias oriundas da Prússia, da Pomerânia e da Silésia e que se descreviam, ou eram descritas, como sendo alemães.  Eles fizeram parte da onda migratória da Polônia, que diminuiu nos próximos anos para e tornou a aumentar entre 1895 e 1896.  Segundo Malczewski  entre 1897 e 1905 chegaram ao Brasil 8 mil poloneses do Reino da Polônia, e cerca de 24 mil pessoas chegaram nos dez anos seguintes, enquanto que em 1914, 100 mil poloneses emigraram para o Brasil para fugir do serviço militar do exército imperial russo. As décadas de 1920 e 1930 trouxeram ao Brasil mais 41,2 mil indivíduos poloneses. O meu próximo blog irá trazer um resumo da história da nação-estado da Polônia.


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Viagem à Polônia

Joaquina Pires-O’Brien

De 17 a 24 de setembro deste ano de 2011 eu tive a chance de visitar a bela e interessante cidade de  Gdansk (também conhecida pelo nome em alemão Dansig), na Polônia. Foi uma viagem de oportunidade, já que fui acompanhando meu marido que foi lá para o congresso anual do Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (CIEM/ICES), organização que descrevi no meu blog anterior. Neste blog eu registro as impressões que tive de Gdansk, em particular, e da Polônia, em geral.

O nosso voo foi com a Wiss Airlines e saiu de Luton, na Inglaterra, às oito horas da manhã, chegando duas horas depois ao aeroporto Lech Walesa, que serve às cidades de Gdansk, Gdynia e Sopot, localizadas na costa do Mar Báltico.  Do aeroporto fomos de táxi até o hotel no centro da cidade onde ficamos hospedados, o Gdansk, construído a partir de um celeiro do século XVIII na beira do canal onde hoje fica uma marina cheia de iates dos mais diversos tamanhos. No percurso pudemos observar algumas vilas residenciais com casas em estilo sóbrio, quase sempre de dois ou três andares e com sótãos que aproveitam a estrutura dos angulosos telhados pretos, vermelhos e amarelados. O trajeto entre o aeroporto e Gdansk cortou um gigantesco canteiro de obras que  incluíam o novo estágio de futebol e outras infraestruturas ligadas ao campeonato europeu de futebol, a ser realizado na Polônia e na Ucrânia em 2012.

Tão logo desfizemos nossas malas fomos andando até a cidade velha para procurar um lugar para almoçar. Depois de atravessar duas pontes, a do canal do rio Nowa Moptlawa e a da ilha de Spichlerze, logo chegamos à praça principal – Long Market Square –, com seus belíssimos prédios, todos reconstruídos em sua forma original, depois da completa devastação causada pela Segunda Guerra Mundial. Talvez o prédio mais destacado seja o Palácio Municipal, construído na arquitetura Gótico-Renascentista e dotado de um campanário de 37 sinos, o qual já foi a residência do eminente astrônomo Johannes Hevelius (1611-87), o filho mais famoso de Gdansk, escolhido como o homem do milênio da Polônia. Os demais prédios, todos têm sua importância histórica ligada aos seus antigos moradores, incluindo residências de reis e dignitários. Um dos poucos prédios importantes que não foi construído como residência é a Corte de Artur (Dwór Artusa), uma espécie de clube das pessoas importantes dos séculos XVI  e VXI, assim chamada em paródia à residência do mitológico rei Artur e sua igualitária mesa redonda.  Mais ou menos em frente a esses dois prédios fica a Fonte de Netuno, de 1633, cuja estátua de Netuno data de 1549. Escolhemos um restaurante ali perto, com mesas na calçada, protegidas por enormes guarda-sóis. Optamos pelo prato do dia: bisteca de porco à milanesa, batatas com ervas, repolho e salada de brotos de alfafa. Tudo muito saboroso.

Durante a semana pude conhecer melhor a Long Market Square e outras atrações de Gdansk. Há seis importantes igrejas na cidade sendo a Basílica de Nossa Senhora da Assunção a mais importante do ponto de vista histórico, por ser considerada a maior igreja de tijolos do mundo, com capacidade para 25 mil pessoas e uma torre de 78 metros de altura. Dentro da igreja destaca-se um enorme relógio astronômico de 1464, que fornece além da hora e da data, as fases da lua, a posição do sol e da lua em relação aos signos do zodíaco e o calendário dos santos. Também visitei a Casa Uphagen, da segunda metade do século XVIII e morada de diversas gerações de uma mesma família, a qual se tornou museu depois que o último residente morreu sem deixar herdeiros.

Gdansk é considerada um dos centros mundiais do comércio do âmbar, resina fossilizada de árvores do período Jurássico, 30 a 50 milhões de anos atrás, e encontrada em abundância na região do Mar Báltico. Uma das atrações da cidade são as lojas de bijuterias finas de prata e âmbar bem como o Museu do Âmbar, localizado numa fortificação medieval que  no período da Segunda Guerra era usado como uma prisão. O âmbar é também usado para esculpir animais na decoração de objetos úteis que são comumente adquiridos como presentes como abridores de cartas, marcadores de livros, porta-jóias, chaveiros etc.

Na terça feira, participei de um passeio a pé pela cidade com um guia turístico, que nos levou aos principais pontos da cidade, alguns dos quais já descrevi acima. Eva, a nossa guia, uma jovem senhora de quarenta e poucos anos, descreveu-nos um pouco da sua infância e juventude sob o regime comunista. Segundo ela, a educação primária e secundária era melhor do que a dos dias de hoje e a eletricidade era muito mais barata, mas faltava quase tudo. As unidades familiares recebiam códigos respectivos à área de moradia a que tinham direito. Recordo-me apenas de que 32 metros quadrados era o máximo permitido para um casal sem filhos. Ela também falou das concessões especiais para a aquisição de casas e carros, dada aos dignitários do Partido Comunista, e da complicada burocracia para a obtenção de passaporte e vistos de saída do país.  O último ponto foi o monumento Solidariedade, construído em 1980 pelos trabalhadores portuários, em homenagem aos colegas mortos pela bruta repressão policial durante as greves de 1970. O mesmo consiste em três cruzes com âncoras, cada cruz pesando 36 toneladas e 42 metros de altura.  O ocorrido em 1970 foi um prenúncio de 1980, quando foi criado o sindicato Solidariedade, sob a liderança de Lech Walesa, o independente do Partido Comunista, marcando assim  o início do movimento contra o domínio soviético do Leste Europeu que culminou com a queda do Muro de Berlim em 1989.

Na mesma praça onde fica o Monumento Solidariedade fica a exibição subterrânea  Vias para a Liberdade (Drogi do Wolnosci) um itinerário de vinte e dois pontos de exibições cobrindo o período entre 1945 e 1989, que eu visitei na quinta-feira. Apesar de a exibição ser inteiramente em polonês, pude ouvir a narrativa em inglês através do aparelho portátil alugado, onde coloquei meu próprio fone de ouvido. A exibição começa descrevendo o cotidiano da década de 1970. Uma mercearia de prateleiras quase vazias a não ser por algumas garrafas de vinagre e potes de mostarda. A narrativa explica as enormes filas para comprar alimentos. Até papel higiênico era um produto escasso cuja compra exigia um recibo de determinada quantidade de jornal nos postos de reciclagem. As pessoas compravam por oportunidade, na expectativa de poder trocar produtos umas com as outras.

 Sobre a Culinária Polonesa. A experiência que tive com a culinária polonesa foi no geral positiva. Os pratos principais incluem porções generosas de carne ou pescado, mas a carne de porco polonesa é excepcional. Constatei que o repolho é a verdura mais importante da culinária polonesa, sendo oferecido em inúmeras maneiras incluindo o chucrute.

 Tive duas experiências engraçadas com a comida polonesa. A primeira foi num almoço bufê quando fui direto a um prato que pensei tratar-se de arroz, mas depois percebi que se tratava de repolho cortado em pedacinhos no formato do arroz. A segunda foi no jantar comemorativo do congresso, quando no final do mesmo, depois de ter comido a sobremesa de torta de maçã, o anfitrião polonês nos informou que seria servido um prato especial, conforme o costume pomerano. Como eu já estava inteiramente satisfeita achei por bem declinar o tentador pernil de porco assado com ervas e maçãs. Entretanto, eu tirei uma provinha do prato da pessoa ao meu lado, e o pernil estava suculento e delicioso.

Malbork e os Cavaleiros Teutônicos. Na quarta-feira eu participei de uma excursão a Malbork, que fica a cerca de 60 km de Gdansk, visitar o fabuloso Castelo Teutônico, construído pelos Cavaleiros Teutônicos,  uma ordem religiosa de caráter militar criada para defender os peregrinos a Malbork, considerada uma nova Terra Santa, em substituição à Palestina que havia sido tomada pelos muçulmanos. Ali os Cavaleiros Teutônicos construíram o enorme castelo fortificado, para servir de nova sede dos cruzados cristãos, com a autorização do Rei da Polônia, em troca da ajuda deles para lidar com os lituânios pagãos. Os Cavaleiros Teutônicos criaram um estado próprio em torno do castelo, de onde eles passaram a controlar o comércio do âmbar. Nos próximos cento e tantos anos os Cavaleiros Teutônicos impuseram seu regime autocrático em toda a região, impondo a cultura germânica e o catolicismo.

Os cento e cinquenta anos da ocupação teutônica da Polônia influenciou a sua composição ética cultural, principalmente da região circunvizinha ao castelo teutônico de Malbork e que coincide com a Pomerânia.

Por acaso, no domingo anterior, dia 18 de setembro, eu havia assistido pela televisão o desfile folclórico do povo pomerano, cujos trajes me fez lembrar aqueles usados pelos pomeranos do Espírito Santo. Posteriormente constatei que alguns dos pomeranos de Santa Leopoldina haviam imigrado da região de Gdansk (Num blog posterior irei falar sobre a diáspora polonesa no Brasil e  os pomeranos).

No sábado, nosso último dia em Gdansk, eu levei meu marido para um passeio a pé pela cidade velha e até a praça da Solidariedade. Depois de um belo almoço num restaurante com vista para o rio retornamos ao hotel para apanhar nossas bagagens e tomar um táxi para o aeroporto Lech Walesa. Espero retornar um dia à Gdansk e também conhecer outras partes desse interessante país que é a Polônia.


Jo Pires-O’Brien é editora da revista digital PortVitoria, sobre a cultura ibérica no mundo.

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O Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (CIEM/ICES)

Joaquina Pire-O’Brien

Acabo de retornar de uma viagem de sete dias a Gdansk, Polônia, onde acompanhei meu marido Carl que foi participar do congresso anual do Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (CIEM), também conhecido pela sigla inglesa ICES (International Council for the Exploration of the Sea). Esse foi o segundo congresso do CIEM/ICES que assisti, o primeiro tendo sido em Nantes, no ano passado. O motivo que me levou a escrever este blog sobre o  CIEM/ICES foi o desejo de divulgá-lo junto aos leitores brasileiros ou outros leitores de português, pelo fato do mesmo ser um exemplo de como a ciência pode ser empregada para ajudar os governos a tomar decisões políticas.

O CIEM/ICES é uma organização intergovernamental sediada em Copenhagen, na Dinamarca, que coordena e promove a pesquisa oceanográfica no hemisfério Norte incluíndo o Atlântico Norte, o Mar do Norte,  o Mar Báltico e outro ambientes marinhos, cujo mandato é fornecer orientação técnica aos governos nos tópicos ligados ao manejo da pesca comercial e outros recursos marinhos. O CIEM/ICES foi criado em 1902 por oito países-membros embora atualmente conta com vinte países-membros. Embora cada país-membro tenha sua própria política de pesca e de recursos marinhos, os países-membros possuem um compromisso com o ambiente marinho global. O CIEM/ICES produz relatórios-orientadores que permitem que cada governo forje suas políticas de pesca e recursos marinhos com base na ciência.  O CIEM/ICES também atua fora das áreas dos países-membros através de consultorias fornecidas a outras entidades internacionais como a Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas, a FAO.

A principal entidade decisória do CIEM/ICES  é o seu Conselho, do qual participa os delegados de cada país-membro. O CIEM/ICES é administrado por um Secretariado cuja tarefa é dar suporte aos diversos grupos de estudo e respaldar a qualidade dos relatórios-consultivos preparados por estes. Nesse processo, os técnicos profissionais do Secretariado são engajados através do diálogo e da cooperação com cientistas, com os clientes da orientação técnica e com os stakeholders – as pessoas ou organizações que têm algum interesse direto no ambiente marinho e seus recursos. Desse processo participa cerca de 1600 cientistas espalhados por umas 200 instituições interligadas através de acordos internacionais com o CIEM/ICES.

O CIEM/ICES possui Grupos de Trabalho permanentes para discutir os aspectos mais relevantes do ecossistema marinho, desde os processos físicos, a química da água e seus poluentes, até a biodiversidade e as questões da predação natural por parte das aves e mamíferos marinhos.  Julgar adequadamente o quanto cada país pode pescar sem comprometer a continuidade do recurso não é uma tarefa fácil. Entretanto, embora a ciência da pesca não seja absoluta, o respaldo científico é o melhor que é possível obter com base nas informações existentes.

Como organização científica o CIEM/ICES possui dois aspectos caracterizantes. O primeiro é o fato de ter se originado para atender uma necessidade palpável: a ameaça de extinção de importantes pescados como o bacalhau, o atum, o arenque, o hadoque, bem como dos moluscos e crustáceos em geral. O segundo aspecto é a colaboração internacional necessária para a compreensão do ambiente e dos recursos marinhos.

A pesca é uma atividade econômica de elevada importância para a maioria dos países, principalmente aqueles que detêm uma boa zona de área pesqueira exclusiva. Entretanto a captura de peixe tem diminuído gradativamente desde as últimas décadas.  Os pesquisadores que atuam na área da pesca, buscando informações sobre o estado dos recursos pesqueiros e criando modelos matemáticos de previsão desses recursos, são referidos como ‘cientistas pesqueiros’. O estudo da  dinâmica de um recurso pesqueiro requer uma compreensão sobre recrutamento, reprodução e mortalidade total (pela pesca e devido aos predadores naturais). A ciência da pesca emprega outros parâmetros específicos como biomassa limite (Blim), biomassa precauciosa (Bpa), catch (total do pescado apanhado) e by-catch (espécies apanhadas junto com a espécie intencionada).

Em paralelo às reuniões e outros eventos científicos que ocorrem durante os congressos anuais do CIEM/ICES, ocorrem também reuniões administrativas e reuniões do conselho. Este ano, o congresso do CIEM/ICES na Polônia contou com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Marinha e Pesca (NMFRI) da Polônia, sediado na cidade vizinha de Gdynia, o qual aproveitou o evento para celebrar os seus 80 anos de existência. O evento foi celebrado com uma suntuosa recepção na magnífica Corte de Artur (Artus Court), na praça do centro antigo de Gdansk, da qual eu também tive a honra de comparecer juntamente com meu marido.

Conforme frisado anteriormente, a organização CIEM/ICES é um exemplo de como a ciência pode ser empregada na tomada de decisões políticas. A opção pela ciência como base das políticas governamentais, ao invés de modismos ou caprichos de personalidades, é uma característica das sociedades avançadas. Entretanto, isso não significa que tais sociedades estejam livres da ameaça do relativismo, doutrina caracterizada por negar que os conhecimentos ou valores possuam validade universal, apesar do paradoxo de que se não há verdade tampouco o relativismo pode existir. Na visão relativista não há diferença entre uma elevada capacitação científica e nenhuma capacitação científica já que na visão relativista não reconhece que haja conhecimento superior ou opiniões melhores. É preciso continuar atento.


Jo Pires-O’Brien é editora de PortVitoria, revista digital sobre a cultura ibérica no mundo.

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